Católicos Online | ![]() | ![]() |
Primeira Leitura: PENTATEUCO: Livro do Gênesis (Gn), capítulo 15 Segunda Leitura: EPÍSTOLAS DE SÃO PAULO: Epístola aos Filipenses (Fl), capítulo 3 EPÍSTOLAS DE SÃO PAULO: Epístola aos Filipenses (Fl), capítulo 4 |
EVANGELHOS: Evangelho segundo São Lucas (Lc), capítulo 9 (28) Passados uns oitos dias, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e subiu ao monte para orar. (29) Enquanto orava, transformou-se o seu rosto e as suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. (30) E eis que falavam com ele dois personagens: eram Moisés e Elias, (31) que apareceram envoltos em glória, e falavam da morte dele, que se havia de cumprir em Jerusalém. (32) Entretanto, Pedro e seus companheiros tinham-se deixado vencer pelo sono, ao despertarem, viram a glória de Jesus e os dois personagens em sua companhia. (33) Quando estes se apartaram de Jesus, Pedro disse: Mestre, é bom estarmos aqui. Podemos levantar três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias!... Ele não sabia o que dizia. (34) Enquanto ainda assim falava, veio uma nuvem e encobriu-os com a sua sombra, e os discípulos, vendo-os desaparecer na nuvem, tiveram um grande pavor. (35) Então da nuvem saiu uma voz: Este é o meu Filho muito amado, ouvi-o! | ||||||||
| |||||||||
2.º Domingo da Quaresma - Nossa meta é a glória do CéuEvangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas Naquele tempo, Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para rezar. Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante. * A transfiguração do Senhor, narrada por São Lucas Evangelista neste domingo, precede o início da subida de Jesus a Jerusalém para ser crucificado. Trata-se realmente de uma preparação para a Sua entrega sacrifical, e a conveniência desse episódio é explicada de modo completo por Santo Tomás de Aquino: "Depois de anunciar aos discípulos a sua paixão, o Senhor os convidou a que o seguissem. Ora, para caminhar retamente, a pessoa deve saber de algum modo para onde vai, assim como o arqueiro, antes de lançar a flecha, deve mirar o alvo. Foi o que disse Tomé: 'Senhor, não sabemos para onde vais; como podemos conhecer o caminho?' (Jo 14, 5). Isso é particularmente necessário quando o caminho é difícil e áspero, a jornada trabalhosa e a meta agradável. Cristo, com a paixão, devia alcançar a glória não só da alma, esta a possuía desde o início de sua concepção, mas também do corpo, como está escrito: 'Era necessário que o Messias sofresse essas coisas e assim entrasse em sua glória' (Lc 24, 26). A essa glória Cristo conduz os que seguem as pegadas de sua paixão, como diz At 14, 21: 'É necessário passar por muitos sofrimentos para entrar no Reino dos céus'. Por isso era conveniente que Cristo mostrasse aos discípulos a glória de sua claridade (e isto é ser transfigurado), à qual há de configurar os que o seguem, como diz Fl 3, 21: 'Transformará o nosso pobre corpo tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso'. Comentando o Evangelho de São Marcos, diz Beda: 'Saboreando por alguns instantes, por pia providência, o gozo definitivo, os discípulos haveriam de suportar com mais fortaleza as adversidades'." (S. Th., III, q. 45, a. 1) Neste tempo da Quaresma, a transfiguração é um lembrete muito importante: lembra que os jejuns e mortificações desses quarenta dias no deserto só têm sentido por causa da glória do Céu. Caso contrário, a religião cristã não passaria de masoquismo e idolatria à dor. Jesus Se transfigura diante de Seus discípulos para mostrar a finalidade da Cruz: o ingresso na vida celeste, primeiro Cristo, como "primogênito entre os mortos" (cf. Cl 1, 18), depois nós, como membros de Seu corpo. Outra importante consideração do Aquinate é a comparação entre esse episódio da transfiguração com o evento do batismo do Senhor no rio Jordão. Curiosamente, são os únicos momentos da vida de Cristo em que o próprio Pai dá testemunho da filiação do Verbo encarnado. Eis o porquê: "A adoção de filhos de Deus se dá pela conformidade da imagem com o Filho de Deus por natureza. E isso de dois modos: primeiro, pela graça do caminho, que é uma conformidade imperfeita; segundo, pela glória, que é a conformidade perfeita, como está em 1 Jo 3, 2: 'Desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos. Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é'. Portanto, uma vez que pelo batismo alcançamos a graça, e na transfiguração nos foi mostrada a claridade da glória futura, era conveniente manifestar, tanto no batismo, como na transfiguração, a filiação natural de Cristo pelo testemunho do Pai, uma vez que ele é o único que tem consciência perfeita daquele perfeita geração, juntamente com o Filho e o Espírito Santo." (S. Th., III, q. 45, a. 4) A conexão entre a graça e a glória, entre o nosso nascimento como cristãos e o nosso nascimento para a vida definitiva, é uma constante no ensinamento dos santos e do Magistério. O bem-aventurado John Henry Newman dizia, por exemplo, que "grace is glory in exile and glory is grace at home – a graça é a glória no exílio e a glória é a graça em casa". Se o fim da vida cristã é a glória celeste, a identidade e missão da Igreja não podem ser outras senão levar os homens a essa comunhão com Deus. A atual crise que assola a sociedade deve-se, em grande parte, ao fato de as pessoas terem perdido a bússola que deve orientar as suas vidas – e à omissão da Igreja em anunciar aos homens o que lhes pode trazer à paz. A religião cristã católica não é uma ONG ou uma "pedagogia espiritualista" para construir um mundo melhor. A finalidade da Igreja não é este mundo, mas o vindouro. É claro que, no esforço por chegar ao Céu, também as realidades terrenas ganham um novo sabor. Basta pensar no trabalho de tantos santos e santas de Deus que, esquecendo-se de si mesmos e das coisas deste mundo, elevaram a humanidade e transformaram o ambiente à sua volta. Mas isso é apenas a consequência de quem trabalha tendo em vista o sobrenatural. Quem vive pensando tão somente no poder e no prazer terrenais, termina convertendo tudo à sua volta em inferno. Foi o que fizeram os nazifascistas na Europa, e os comunistas, por onde quer que tenham passado. Resgatemos a nossa identidade, e tenhamos os olhos fixos no Reino dos céus, colocando todo o nosso empenho em fazer a vontade de Deus – mesmo que, para isso, devamos renunciar à nossa. Assim como Cristo "obedeceu até a morte, e morte de cruz" (Fl 2, 8), sigamos também nós o caminho da obediência, crucificando o nosso egoísmo para, um dia, chegarmos também nós ao Tabor da transfiguração. Padre Paulo Ricardo Das trevas até a luzAntes de tudo, duas observações: (1) A Palavra de Deus, neste Domingo, apresenta-nos um contraste muito forte entre escuridão e luz: escuridão da noite do Pai Abraão e luz do Cristo transfigurado; (2) chama atenção, num tempo tão austero como a Quaresma um evangelho tão esfuziante como o da Transfiguração. Não cairia melhor na Páscoa, este texto? Por que a Igreja o coloca aqui, no início do tempo quaresmal?
Comecemos pela primeira leitura. Aí, Abraão nos é apresentado numa profunda crise; Deus tinha lhe prometido uma descendência e uma terra e, quase vinte e cinco anos após sua saída de seu pátria e de sua família, o Senhor ainda não lhe dera nada, absolutamente nada! Numa noite escura, noite da alma, Abraão, não mais se conteve e perguntou: “Meu Senhor Deus, que me darás?” (Gn 15,2) Deus, então, “conduziu Abrão para fora e disse-lhe: ‘Olha para o céu e conta as estrelas, se fores capaz! Assim será a tua descendência!” Deus tira Abraão do seu mundozinho, de seu modo de ver estreito, da sua angústia, e convida-o a ver e sentir com os olhos e o coração do próprio Deus. “Abrão teve fé no Senhor”. Abraão esperou contra toda esperança, creu contra toda probabilidade, apostando tudo no Senhor, apoiando nele todo seu futuro, todo o sentido de sua existência! Abraão creu! Por isso Deus o considerou seu amigo, “considerou isso como justiça!” E, como recompensa Deus selou uma aliança com nosso Pai na fé: “’Traze-me uma novilha, uma cabra, um carneiro, além de uma rola e uma pombinha’. Abrão trouxe tudo e dividiu os animais ao meio. Aves de rapina se precipitaram sobre os cadáveres, mas Abrão as enxotou. Quando o sol ia se pondo, caiu um sono profundo sobre Abrão e ele foi tomado de grande e misterioso terror”. Abrão entra em crise: no meio da noite – noite cronológica, atmosférica; noite no coração de Abrão – no meio da noite, as aves de rapina ameaçam, e o sono provocado pelo desânimo e a tristeza, rondam nosso Pai na fé… Deus demora, Deus parece ausente, Deus parece brincar com Abraão! Tudo é noite, como muitas vezes na nossa vida e na vida do mundo! Mas, ele persevera, vigia, luta contra as aves rapineiras e o torpor… E, no meio da noite e da desolação, Deus passa, como uma tocha luminosa: “quando o sol se pôs e escureceu, apareceu um braseiro fumegante e uma tocha de fogo… Naquele dia, o Senhor fez aliança com Abrão”. Observemos o mistério: Deus passou, iluminou a noite; a noite fez-se dia: “Naquele dia, Deus fez aliança com Abrão!” Abraão, nosso Pai, esperou, creu, combateu, vigiou e a escuridão fez-se luz, profecia da luz que é Cristo, cumprimento da aliança prometido pelo Senhor! “O Senhor é minha luz e salvação; de quem eu terei medo? O Senhor é a proteção da minha vida; perante quem tremerei?” Eis o cumprimento da Aliança com Abraão: Cristo, que é luz, Cristo que hoje aparece transfigurado sobre o Tabor!
Fixemos a atenção no evangelho, sejamos atentos aos detalhes: Jesus estava rezando – “subiu à montanha para rezar” – e, portanto, aberto para o Pai, disponível, todo orientado para o Senhor Deus: Cristo subiu para encontrar seu Deus e Pai! E o Pai o transfigura. Sim, o Pai! Recordemos que é a voz do Pai que sai da nuvem e apresenta Aquele que brilha em luz puríssima:“Este é o meu Filho, o Escolhido!” E a Nuvem que o envolve é sinal do Espírito de Deus, aquela mesma glória de Deus que desceu sobre a Montanha do Sinai (cf. Ex Ex 19,16), sobre a Tenda de Reunião no deserto (cf. Ex 40,34-38), sobre o Templo, quando foi consagrado (cf. 1Rs 8,10-13) e sobre Maria, a Virgem (cf. Lc 1,35). É no Espírito Santo que o Pai transfigura o Filho! Na voz, temos o Pai; no Transfigurado, o Filho; na Nuvem luminosa, o Espírito! E aparecem Moisés e Elias, simbolizando a Lei e os Profetas. Aqui, não nos percamos em loucas divagações e ignóbeis conclusões, como os espíritas, que de modo louco, querem provar com este texto que os mortos se comunicam com os vivos! Trata-se, aqui, de uma visão sobrenatural, não de uma aparição fantasmagórica e natural! Moisés e Elias, que “estavam conversando com Jesus… sobre a morte, que Jesus iria sofrer em Jerusalém”. Aqui é preciso compreender! Um pouco antes – Lucas diz que oito dias antes (cf. 9,28) – Jesus tinha avisado que iria sofrer muito e morrer; os discípulos não compreendiam tal linguagem! Agora, sobre o monte, eles vêem que a Lei (Moisés) e os Profetas (Elias) davam testemunho da morte de Jesus, de sua Páscoa! Sua paixão e morte vão conduzi-lo à glória da Ressurreição, glória que Jesus revela agora, de modo maravilhoso! Assim, a fé dos discípulos, que dormiam como Abraão, é fortalecida, como o foi a de Abraão, ao passar a glória do Senhor na tocha de fogo! A verdadeira tocha, a verdadeira luz que ilumina nossas noites sombrias e nossas dúvidas tão persistentes é Jesus!
Mas, por que este evangelho logo no início da Quaresma? Precisamente porque estamos caminhando para a Páscoa: a de 2004 e a da Eternidade. Atravessando a noite desta vida e o combate quaresmal, estamos em tempo de oração, vigilância e penitência! A Igreja, como Mãe, carinhosa e sábia, nos anima, revelando-nos qual o nosso objetivo, qual a nossa meta, o nosso destino: trazer em nós a imagem viva do Cristo ressuscitado, transfigurado pelo Espírito Santo do Pai. Escutemos São Paulo:“Nós somos cidadãos do céu. De lá esperamos o nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso. Assim, meus irmãos, continuai firmes no Senhor!” Compreendem? Se mantivermos o olhar firme naquilo que nos aguarda – a glória de Cristo –, teremos força para atravessar a noite desta vida e o combate da Quaresma. Somos convidados à perseverança de Abraão, ao seu combate na noite, à vigilância e à esperança, somos convidados a não sermos “inimigos da cruz de Cristo, que só pensam nas coisas terrenas”, somos convidados a viver de fé, a combater na fé! Este é o combate da Quaresma, este é o combate da vida: passar da imagem do homem velho, com seus velhos raciocínios e sentimentos, ao homem novo, imagem do Cristo glorioso! Se formos fiéis, poderemos celebrar a Páscoa deste ano mais assemelhados ao Cristo transfigurado pela glória da Ressurreição e, um dia, seremos totalmente transfigurados à imagem bendita do Filho de Deus, que com o Pai e o Espírito Santo vive e reina na glória imperecível. Amém!
Dom Henrique Soares |
Uma cruz sem Cristo não diz nada. Cristo na cruz diz tudo. [Claudio Maria]
-= Ajude-nos: doação ou divulgação! -|- Publique artigos você também =- |
-= Grupo Católicos Online no Face -|- Cristãos Online no Face -|- Assine RSS Católicos Online =- |