O PAPA FRANCISCO E A MISERICÓRDIA
O profeta
Jeremias escreveu. “As misericórdias do Senhor São a causa de não sermos
consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se a cada manhã.
Grande é a sua fidelidade” (Lm 3, 22,23).
A frase em latim
escolhida pelo Papa Francisco para ser o seu lema – Miserando atque
eligendo - traduzido para o português “Com misericórdia o elegeu”,
extraído da homilia de São Beda ao comentar a vocação do apóstolo São Mateus e traz
uma poderosa luz, fortaleza e alegria aos corações conhecedores da mensagem da
Misericórdia Divina. Está aí mais um cumprimento profético da missão de santa
Faustina Kowalsska, apóstola da Divina Misericórdia.
É fácil observar
que a notícia da eleição do novo Papa surpreendeu a todos, não só aos fiéis,
mas também a mídia mundial, já que o Cardeal Jorge Mario Bergoglio, sacerdote
Jesuíta, latino-americano, não constava na lista dos favoritos, elencada pelos
diversos veículos de comunicação. A fumaça branca que saiu da chaminé da Capela
Sistina, no dia 13 de março de 2013, trazendo ao mundo a boa nova Habemus Papa!
aconteceu às 19h07min (horário em Roma), considerando as diferenças de fuso
horário, exatamente ás 15h07min no Brasil – hora da Divina Misericórdia.
Em sua primeira
aparição pública, minutos depois do anúncio da sua eleição, o Papa Francisco
saudou os peregrinos, pronunciando palavras de agradecimento, e junto com a
multidão rezou pelo seu antecessor – o Papa Emérito Bento XVI. Ainda antes de
abençoar os fiéis – convidou-os a rezar por ele, e num ato de humildade
ajoelhou-se e em silêncio ouvia a voz do seu rebanho que por ele clamava a
unção do Espírito Santo. Tal atitude jamais fora realizada pelos seus predecessores.
Já foi falado e
escrito bastante sobre a personalidade do Cardeal Bergoglio desde que foi
apresentado ao mundo como o novo Papa da Igreja Católica: um homem simples, que
leva uma vida comum, verdadeiramente humilde – morava sozinho num pequeno
apartamento e preparava suas refeições, objetivos em suas homilias com
simplicidade, defensor da vida, apreciador da literatura, da música clássica e
do futebol e que sempre procurou manter-se afastado da mídia. Na Argentina, seu
país de origem, utilizava transporte público, metrô e ônibus, sempre vestindo
batina. Ao ser nomeado Cardeal não comprou vestimenta nova, mas pediu que
ajustassem a vestimenta do seu antecessor para que ele pudesse usá-la.
A Misericórdia
Proclamada
Em suas
homilias, frequentemente o Papa Francisco fala do tema da misericórdia: “o
coração de Deus está cheio de misericórdia” afirmou na sua primeira oração do Angelus
na praça de São Pedro diante de uma multidão de fiéis. Na mensagem pascal
Urbi ET Orbi no domingo de Ressurreição ele declara para 250 mil pessoas:
“venceu o amor, venceu a misericórdia!” e no domingo da Festa da Misericórdia,
as suas palavras prévias à oração da Regina Coeli foram contundentes: “a
verdadeira paz vem de experimentar a misericórdia de Deus”.
O Papa Francisco
declara: “A misericórdia de Deus... como é bela esta realidade da fé para a
nossa vida! Como é grande e profundo o amor de Deus por nós! É um amor que não
falha, que sempre agarra a nossa mão, nos sustenta, levanta e guia (...). Não
percamos jamais a confiança na paciente misericórdia de Deus”.
No Evangelho de
São Lucas 6,27-36, Jesus exortou os seus seguidores a buscarem um estilo de
vida que demonstre a misericórdia de Deus a todos: “... amai os vossos
inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai
pelos que vos caluniam” (vv.27-28). Ele também disse que a generosidade e a
falta de retaliação devem caracterizar a nossa reação ao tratamento irracional
(vv. 29-30) Jesus concluiu: “Como quereis que os homens vos façam, assim
fazei-o vós também a eles” (v.31). Impossível? Sim, se contamos apenas com a
nossa própria força e determinação. A força vem do Espírito. E a determinação
da nossa lembrança de como Deus nos tratou: “... Pois ele é benigno até para
com os ingratos e maus. Sede misericordiosos, como também é misericordioso
vosso Pai” (vv35-36).
Jesus repreendeu
os fariseus por defenderem a lei, mas negligenciarem os “... preceitos mais
importantes da lei...” (Mt 23,23). O amor é tudo!
Nós podemos
tender á justiça ou misericórdia, mas Jesus as mantém em perfeito equilíbrio
(Is 16,5; 42,1-4). A sua morte satisfez a necessidade de Deus por justiça e a
nossa necessidade por misericórdia.
A vida é uma
estrada sinuosa com perigo e problemas desconhecidos, mas podemos ter a certeza
da providência, segurança e cuidado do bom Deus. O cultivo e a partilha do amor
expresso com gestos concretos pode, sem dúvida, transformar as situações mais
caóticas. Quanta gente vive sem amor, aguardando um sorriso, um abraço, um “eu
te amo”. Pequenos atos causam mudanças profundas e duradouras. Nos anos de 1950
a cantora pop judia Kitty Kallen, fez um grande sucesso com a música: “Pequenas
coisas significam muito”. Pequenas atitudes de carinho, de educação, de
agradecimentos e de ocupação pelo próximo são de grande relevância.
Rezando o
Terço da Misericórdia, ora nas contas pequenas: “Pela sua dolorosa paixão,
tende misericórdia de nós e do mundo inteiro”.
Não há dúvida,
a humanidade precisa urgentemente da misericórdia para paz, amor e vida
abundante!
Pe. Inácio José do Vale
Professor de História da Igreja
Instituto de Teologia Bento XVI
Sociólogo em Ciência da Religião
E-mail:PE.inacio,Jose@gmail.com
Fontes:
Divina Misericórdia, n. 22, p.23.
Callazo, Julie Schwietert. Rogak,
Lisa. Papa Francisco em
suas próprias palavras. Campinas, SP: Verus, 2013.