A Luz que Cega
Fonte: Dom Henrique Soares da Costa
O
Eclesiástico, falando da relação do Senhor Deus com Moisés, diz assim: “Na
fidelidade e doçura Ele o santificou, escolheu-o entre todos os viventes;
fez-lhe ouvir a Sua voz e o introduziu nas trevas” (Eclo
45,4-5).
Estranhas e belas, estas palavras... Exprimem muito bem o modo de agir de Deus
com os Seus amigos, com os místicos de todos os tempos...
Por um lado, o Senhor educa Seus amados; vai, pouco a pouco, conduzindo-os com
fidelidade e doçura, atraindo-os a Si, santificando-os (isto é, fazendo-os
entrar na Sua vida bendita, na Sua santidade bem-aventurada).
Interiormente, de modos inexplicáveis, o Senhor vai falando aos Seus, vai
educando-os, vai entabulando com eles um verdadeiro diálogo de amizade e
amor...
Mas, por outro lado, vai introduzindo-os nas trevas. Isto mesmo! Quanto mais
Deus Se aproxima de alguém, mas faz o fiel perceber o quanto Ele está para além
de tudo, o quanto não pode ser abarcado, compreendido, domesticado! E, então, cresce
a saudade medonha daquele que foi conquistado pelos carinhos do Senhor e, por
outro lado, aumenta mais e mais a consciência da distância: Deus é Grande
demais, Santo demais, Incompreensível demais, Luminoso demais para caber nas
nossas pobres medidas!
Que resta ao fiel? Abandonar-se, entregar-se, com total pobreza interior, com
doce confiança naquele misterioso Amigo que Se revela escondendo-Se. Ele é uma
Luz tão intensa que nos cega! Por isso dizia São João da Cruz: “Deus, para nós,
nesta vida, é nem mais nem menos que noite escura!”
De noite, mesmo de noite, não nos cansemos de buscar a Fonte! Deixemo-nos guiar
por nossa sede, como a corça que procura o riacho... Que assim nossa alma
procure o Senhor! - Ó Senhor, preenche meu desejo com Tua luz, Tua doçura e Tua
paz! Recolhe em Ti todas as minhas sedes!