Sola
Scriptura: a farsa desmascarada!
Analisando textos que segundo os protestantes provariam a Sola Scriptura
Se a doutrina de que toda a verdade está na Bíblia é correta, ela mesma deve
estar em algum livro da Sagrada Escritura. É uma conclusão lógica. Logo, a
grande questão é: onde, na Escritura, está contida tal afirmação? Para
demonstrar mais ainda o equívoco dessa doutrina, analisemos as principais
dúvidas levantadas a partir de textos bíblicos que segundo os solascripturistas
provariam a Sola Scriptura. Antes de mais nada, convém salientar que nenhum dos
textos utilizados pelos solascripturistas dizem explícita ou ao menos
implicitamente ser somente a Escritura a única regra dos cristãos. O que eles
fazem é tão somente exaltar a Escritura, não enunciar sua exclusividade.
Analisemos tais textos e comprovemos:
1ª dúvida: “Toda
a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para
corrigir e para formar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
equipado para toda boa obra.” (2 Tm 3,16).
Resposta: Esse texto é inclusive o mais citado. Notemos, porém, antes de
qualquer coisa, que a passagem aqui afirma apenas a inspiração divina da Bíblia
– o que aceitamos plenamente! No entanto, ela não diz que somente a Escritura é
regra de fé. Assim, ao afirmarmos que “Fulano é inteligente” não estamos
dizendo que “Só Fulano é inteligente.” Logo, o texto escriturístico referido
não favorece a pretensão solascripturista. Defender a Sola Scriptura a partir
desses versos é extrapolar para afirmações ausentes do texto. Se olharmos o
contexto dessa passagem, somente em 2º Timóteo, S. Paulo cita a tradição oral
três vezes (1,13-14; 2,2 e 3,14). E para entendermos melhor o caso, comparemos
esse texto com outro do mesmo apóstolo, pois ele esclarecerá melhor o assunto:
“A uns ele constituiu apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas,
pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da
tarefa que visa à construção do corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado
à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de
homem feito, a estatura da maturidade de Cristo. Para que não continuemos
crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao
capricho da malignidade dos homens e de seus artifícios enganadores. Mas, pela
prática sincera da caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a
cabeça, Cristo.” (Efésios 4,11-15). Como se vê, se 2º Timóteo 3 provasse a Sola
Scriptura, pelo mesmo critério, Efésios 4 provaria a suficiência do Magistério
da Igreja (representado aqui pelos pastores, professores, etc.) para o aperfeiçoamento
dos cristãos. Em Ef 4,11-15 se diz que os cristãos são ensinados, edificados,
trazidos à unidade e ao estado de homens feitos na maturidade de Cristo, e
protegidos da confusão doutrinal por meio do Magistério da Igreja. Isso é uma
afirmação muito mais forte do aperfeiçoamento dos homens do que 2º Timóteo 3,
16.17, mas aqui a Escritura não é citada como fonte de aperfeiçoamento.
Concluiremos, por isso, que o Magistério da Igreja é a única fonte de fé?
Excluiremos a Escritura dessa fonte de aperfeiçoamento? É claro que não!
Veja também a carta de S. Tiago 1, 4: "Mas é preciso que a paciência
efetue a sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza
alguma." Esse texto também é mais explícito do que 2 Tm 3, 16.17, no
entanto, ele não menciona a Escritura. Diremos, então, que a paciência é a
única a tornar o homem perfeito, excluindo-se aí a Escritura? Lógico que não.
Mas se todos os elementos extrabíblicos estivessem excluídos de 2º Timóteo,
pelo mesmo raciocínio, seríamos levados a concluir que a Escritura estaria
excluída em Efésios 4, 11-15 e em S. Tiago 1, 1-4, já que aqui ela não é
citada. Para confirmar mais ainda isso, veja mais um texto, com o qual, se seguíssemos
o argumento solascripturista, seríamos forçados a rejeitar a própria Escritura
e ficarmos apenas com a Tradição; e isso seria um absurdo, claro. Trata-se do
texto da segunda carta de São João que diz: "Tenho muitas outras coisas
para escrever-vos, porém, não quero fazê-lo por tinta e papel, pois espero ir
até vós e falar-lhes face a face, para que vosso gozo seja completo" (2
João 1.12). Nessa passagem, explicitamente, o apóstolo diz que aquilo que ele
dirá oralmente será o gozo completo de seus leitores. Está S. João dizendo, por
causa disso, que apenas suas palavras orais são capazes de gerar gozo,
excluindo-se a Escritura?
Não acha, portanto, mais razoável admitir, com os grandes especialistas em
Bíblia, que a ausência de um ou mais elementos em um texto não significa que
devam ser excluídos? Não se vê que o ensino da Escritura é por partes, ou seja,
a Bíblia não diz tudo de uma vez? Não dá para se perceber que um texto completa
o outro e não exclui o outro? Como é que num texto em que se lê TODA a
Escritura, podemos ver SOMENTE a Escritura? Por acaso, o pronome toda é
sinônimo do advérbio somente?
Não adianta objetar com a
palavra útil ("ophelimos" em grego), pois nada ela prova. Um martelo
é útil para fixar pregos, inclusive é o meio normal de fixá-los, porém, não
quer dizer que todos os pregos só podem ser fixados por martelos.
Semelhantemente a Escritura é útil para várias coisas, entretanto, não quer
dizer que todas as coisas devam ser conhecidas apenas por ela. Beber água
também é útil à vida, mas isso não quer dizer que ela seja a única que nos
manterá vivos. A comida, por exemplo, também é necessária à vida.
Quanto às palavras perfeito e preparado também em nada favorece essa doutrina.
O fato de a Escritura dizer que ela torna o homem perfeito e preparado para
toda boa obra, de fato, não insinua a Sola Scriptura, mas ao contrário
pressupõe a existência de outros elementos necessários. Assim, quando dizemos,
por exemplo, que um escoteiro possui todo o equipamento necessário para a sua
exploração, com exceção do cantil, e vai até uma loja de material de camping e
o compra, então poderá afirmar que "agora está completo, pronto para a sua
aventura"; só que há um detalhe: isto não significa que o cantil foi o
único equipamento de que ele necessitava para estar pronto; na verdade, o
cantil foi somente a última peça do equipamento. A certeza de que estava pronto
pressupunha que ele já tinha todo o resto do equipamento necessário. Da mesma
forma, a afirmação bíblica de que ela torna o homem de Deus perfeito também
pressupõe que este homem de Deus detém alguns outros artigos pertencentes à
doutrina, como por exemplo, a Tradição oral dos apóstolos.
E mesmo quando uma pessoa adquire todo o equipamento necessário de uma mesma
loja, esta necessariamente não ensina como tal equipamento deve ser usado. Por
isso precisa ser instruído, para saber como usá-lo. Novamente exemplificando, o
fato de uma pessoa possuir todo o equipamento necessário para sobreviver numa
selva ou suportar uma longa caminhada não significa que saiba usá-lo. Assim,
ainda que a Escritura forneça a alguém todo o conhecimento básico para a
salvação, ela pode ser tão obscura em certos pontos, como de fato o é, que
torna necessário o uso da Tradição Apostólica para se chegar a uma correta
interpretação. Portanto, ainda que a Bíblia ofereça toda a base necessária para
a salvação, ela não nos ensina todos os detalhes.
Além disso, Paulo utiliza sempre este tipo de linguagem sobre outras coisas.
Com efeito, em toda essa carta ele usa a mesma frase. Em 2,21, por exemplo, ele
escreve “...Quem, portanto, se conservar puro e isento dessas doutrinas, será
um utensílio nobre, santificado, útil ao seu possuidor, preparado para toda boa
obra”. No contexto, S. Paulo está falando sobre a santificação, e a libertação
dos desejos da juventude (v. 22). Está com isso dizendo que a santificação é a
única coisa que irá prepará-lo? Podemos afirmar que o apóstolo não necessitava
de nada mais para se preparar a não ser a santificação? Então está excluída aí
a Escritura?
Além de tudo isso, se analisarmos com atenção o trecho citado, notaremos que
ele está fora do contexto. Em toda esta epístola Paulo fala sobre as várias
coisas necessárias para formar o cristão. No contexto imediato ele escreve, no
versículo 10: “...mas você tem seguido cuidadosamente minha doutrina, modo de
vida, objetivo, paciência, amor, perseverança...”. Ele não diz no versículo 10
que a única fonte de doutrina é a Escritura! É óbvio que o modo como Timóteo
primeiramente recebeu a doutrina de Paulo foi pelo seu estilo de vida e pelo
ensino oral. No verso 14 ele diz para perseverar no que a Timóteo foi confiado.
Então, quando chegamos aos versículos 15-17, a conclusão, no que diz respeito a
estar devidamente preparado para qualquer boa obra, inclui esta Tradição oral
explicada no versículo 10. Este é o contexto que explica os versículos 15 a 17.
Leiamos os versículos precedentes ao texto citado para isso ficar ainda mais
claro: "14. E tu (Timóteo), permaneça fiel ao que tens aprendido e de que
estás firmemente convencido, sabendo de quem o aprendeste. 15. E que desde a infância
conheces as Sagradas Escrituras, que podem dar-te a sabedoria que leva à
salvação mediante a fé em Cristo Jesus. 16. Toda Escritura é inspirada por Deus
e é útil para ensinar, para convencer, para corrigir e para educar na justiça,
17. assim o homem de Deus pode ser perfeito e preparado para toda boa
obra". Como se vê, S. Paulo insta a Timóteo a permanecer fiel àquilo que
está firmemente convencido, citando dois fundamentos para isso: 1. Timóteo sabe
de quem aprendeu tudo isso: através do ensino oral do próprio apóstolo. 2.
Desde a infância, Timóteo se familiarizou com as Sagradas Escrituras,
constituindo esta o segundo fundamento para a sua crença. Desse modo, em vez de
2 Tm 3,14-17 defender a Sola Scriptura, nos aponta na realidade duas regras de fé:
a Tradição apostólica e a Santa Escritura. Portanto, quando os
solascripturistas citam os versos 16 e 17, estão isolando a última parte de uma
dupla afirmação de regra de fé: a Tradição e a Bíblia, o que contradiz a Sola
Scriptura.
Ainda: a que Escritura se referiu o apóstolo? Paulo morreu mais ou menos em 67
dC, de modo que 2º Timóteo foi escrito antes desse ano. Sendo assim, não
existia o NT na época de 2Tm! Muito menos durante sua infância (período a que
se refere o apóstolo). Também sabemos que o NT não existiu por centenas de anos
após a redação dessa carta. A única Escritura disponível para S. Paulo era o
AT. Logo, se esse texto favorece a exclusividade da Escritura, na realidade,
favorece a exclusividade do AT. Assim, ninguém pode usar este versículo para
justificar a Sola Scriptura, a não ser rejeitando todo o NT.
Outro detalhe importante: A única Escritura disponível naquele tempo era o AT
hebraico, como também sua tradução grega, a chamada Septuaginta. Isso leva todo
protestante a ter que aceitar os livros "deuterocanônicos", que
estavam na Septuaginta grega, usada pelos judeus de língua grega, inclusive S.
Paulo, e que é a mesma versão da Igreja Católica (Sabemos que das 350 citações
que o NT faz do AT, 300 foram feitas da septuaginta.). Já que estas duas
traduções eram as únicas disponíveis para o apóstolo e ele disse que toda
Escritura era inspirada por Deus, então ele está incluindo também os sete
livros excluídos da Bíblia protestante, que estavam inclusos na Septuaginta
grega. Sendo assim, os deuterocanônicos deveriam ser respeitados, até porque
como exige o princípio da Sola Scriptura, eles são citados centenas de vezes na
Bíblia.
Um último detalhe: como Paulo falou que toda a Escritura é inspirada, então a
afirmação deve incluir todos os versos que até mesmo mencionam a Tradição,
como, por exemplo, 2 Ts 2, 14.15.
O que S. Paulo, na realidade, está dizendo aqui em 2 Tm 3,16 é que a Escritura
é realmente inspirada por Deus, e que por ser inspirada é útil para
preparar-nos para toda boa obra. No entanto, isso não exclui outros itens. No
contexto imediato (vv.10-14) em relação à salvação, assim como a áreas de
desenvolvimento espiritual, o apóstolo apresenta os vários outros itens que nos
preparam, incluindo a Tradição oral. O apóstolo apresenta as Escrituras apenas
como uma dessas várias peças que nos preparam, não a única.
2ª dúvida: Para
provar ou defender a verdade, Jesus sempre usou as Escrituras e somente elas.
(Mt 4,1-11). Nunca apelou para fontes extrabíblicas. A única vez que Jesus mencionou
a tradição oral dos judeus foi para condená-la. (Mc 7, 7-13) Ele simplesmente
mandava as pessoas lerem. Mc 12,24; Mt 12, 3.5; Mt 21; 42; Lc 10, 26; 20.17; Jo
5, 39. Os cristãos primitivos também usavam somente as Escrituras para
determinar a verdade. Veja, por exemplo: Atos 17, 2.11.28. No caso dos
bereanos, notemos que eles foram direto nas Escrituras para determinar a
verdade final. A Tradição oral não tem valor sem o testemunho das sagradas
Escrituras! Vemos ainda que Paulo não censurou os bereanos, antes foram
elogiados por Lucas como "mais nobres" do que os outros por aderirem
ao princípio da Sola Scriptura.
Resposta: Inúmeras vezes, Jesus e os primeiros cristãos citaram
as Escrituras, isso não é nenhuma novidade, mas daí querer concluir que eles só
aceitavam a Escritura como autoridade é extrapolar para afirmação que não
consta nem ao menos implicitamente na Bíblia. Embora Jesus e os primeiros
cristãos tenham citado as Escrituras isso nem de longe nos conduz à Sola
Scriptura, primeiro porque pelo termo "Escrituras", todos eles
entendiam algo quase totalmente diferente da Bíblia que temos hoje. Para Jesus
e os primeiros cristãos as Escrituras compreendiam, por exemplo, todos os
livros deuterocanônicos (ausentes da Bíblia protestante); alguns livros
considerados apócrifos (estando, igualmente, ausentes das Bíblias protestantes):
o Livro de Esdras I, Macabeus III e IV, Odes e os Salmos de Salomão); além
disso, ela não continha também os livros do NT. Por isso, citar trechos do NT
em que Jesus e os primeiros cristãos citam o AT prova apenas que o AT possui
autoridade doutrinária, não que seja prova da "Sola Scriptura", uma
vez que nem Jesus, nem seus primeiros discípulos, defenderam o “Solo Antigo
Testamento”. E é impossível que Jesus e seus primeiros discípulos ensinassem o
Solo Antigo Testamento, pois o AT não foi suficiente para ensinar sobre a Nova
Aliança. Ou foi? Será que o próprio fato de os apóstolos terem que escrever
novos livros para demonstrar que Jesus é o Cristo, por si só já é o suficiente
para provar a insuficiência do AT para demonstrar essa verdade?
Segundo, porque é uma tremenda inverdade dizer que Jesus e seus primeiros
discípulos nunca apelaram para fontes extrabíblicas e que usaram somente as
Escrituras. Várias vezes, Jesus e os cristãos primitivos apelaram, por exemplo,
para sua própria autoridade, mesmo que ela se chocasse com a letra das
Escrituras. Veja-se, por exemplo, o texto de Mateus 5,
21.22.27.28.33.34.38.39.43.44, no qual, após dizer “Ouvistes o que foi
dito...”, referindo-se às Escrituras, Ele acrescenta: “Eu, porém, vos digo...”.
O que claramente demonstra a sua autoridade. Se Jesus fosse solascripturista
com certeza não apelaria para sua autoridade, mas tão somente para a da
Escritura. Os primeiros cristãos, semelhantemente, pois várias vezes os vemos
impondo sua autoridade. Basta vermos, por exemplo, a decisão do Concílio de
Jerusalém em At 15, 28.29 e 16, 4. Além disso, vemos inúmeras vezes os
apóstolos fazendo afirmações que se chocam com a letra do AT. Se os primeiros
cristãos fossem realmente solascripturistas não teriam proposto novas normas
ausentes e até contrárias a muitas do AT. No AT eles não podiam, por exemplo,
demonstrar nenhuma passagem que provasse que a lei antiga já ultrapassara e que
surgira a nova, como afirmaram inúmeras vezes (Hb 8, 13, por exemplo). Onde
citariam também no AT que as leis citadas nos textos de Ex 23,10-11; 35,1-3;
Lev 11,1-47; 17,10-14; 19,19. 23-26; 20,9-27; 24,10-23; 25,3-5, por exemplo,
seriam abolidas? Onde ainda poderiam provar que a circuncisão seria abolida? Em
Gálatas 6, 15, por exemplo, Paulo não se choca com a letra do AT que afirmava a
necessidade da circuncisão? Como ele faria isso, se sua base fosse unicamente a
Escritura e essa mesma Escritura nunca afirmara a abolição da circuncisão? Como
também os apóstolos e seus discípulos teriam escrito o NT, se no antigo
recomenda-se nada acrescentar nem tirar (Deut 4, 2; 12, 32; Jos 1, 7.8)?
Várias expressões, como já vimos, são citadas no NT, mas não constam no AT e
nem mesmo nos Evangelhos (Veja Mt 2,23; At 20, 35; 2Tm 3, 8; Jd 9). Como podem,
então, os solascripturistas alegarem que os cristãos primitivos só usavam as
Escrituras? Não fica claro o absurdo dessa afirmação?
Quanto ao fato de dizerem que Jesus condenou o uso da Tradição em Mc 7,9 é
outra ilusão. Se isso fosse verdade S. Paulo não nos recomendaria também
guardarmos o ensino oral dos apóstolos como já vimos. O problema demonstrado
aqui é o fato dos Fariseus ensinarem informalmente sua própria tradição em vez
da Tradição que foi comunicada desde Abraão até os Profetas (Exatamente como
fazem hoje os solascripturistas, cada um pregando suas próprias tradições). Se
Jesus condenasse as tradições formais, Ele não teria dito ao povo que ouvisse
os fariseus quando estes ensinassem na Cadeira de Moisés, ou seja, ensinassem
formalmente como legítimos sucessores de Moisés (cf. Mt 23,2). Cristo, então,
condena as tradições informais, não as formais. Ainda mais: o fato de Cristo
ter condenado as tradições farisaicas isso não significa dizer que ele
rejeitava as tradições como tais. Ele rejeitava a "tradição" humana,
não a tradição divina. O termo grego usado aí para "tradição" é o
mesmo que aparece em 2 Tes 2, 15 e 3,6 "paradosin", e como se vê, em
Marcos ela significa algo negativo; em Paulo, ela significa algo positivo.
Quanto ao caso dos bereanos, notemos que não foi apenas o testemunho da
Escritura que os levou a abraçar a fé cristã. Ao contrário, se fossem apenas
pelas Escrituras, eles rejeitariam, e não aceitariam, o ensino dos apóstolos,
pois muitos ensinos apostólicos não tinham apoio no AT, como inclusive já
vimos. Logo, esse argumento não procede. Se lermos o contexto, veremos que o
texto diz algo importantíssimo, que esclarecerá definitivamente a passagem.
Vejamos: “Estes (os bereanos) eram mais nobres do que os de Tessalônica e
receberam a palavra com ansioso desejo, indagando todos os dias, nas
Escrituras, se estas coisas eram assim.” (At 17, 11). Como se vê, o texto não
elogia os bereanos apenas por consultarem as Escrituras, mas antes por
“receberem a palavra” oral dos apóstolos. Logo, eles não eram adeptos da Sola
Scriptura, pois se fossem, rejeitariam o testemunho de Paulo, “E este Cristo é
Jesus que vos anuncio.” (verso 3) ), que não constava nas Escrituras. Embora apoiando-se
nas palavra escrita, conforme os primeiros três versículos desse capítulo de
Atos, Paulo logo depois mudou o caminho do argumento das Escrituras para o seu
próprio testemunho “E este Cristo é Jesus que vos anuncio.” A doutrina de que
Jesus é o Cristo trazida, por ele, não se encontrava nas Escrituras, embora se
harmonizasse com elas, no entanto, os bereanos a aceitaram, tão somente porque
confiaram no testemunho dos apóstolos.
Quanto ao fato deles consultarem as Escrituras para certificarem-se da autenticidade
das palavras dos apóstolos, também não favorece nem a Sola Scriptura nem o
livre-exame, pois quando os bereanos conferiram nas Escrituras se era
verdadeira a doutrina de S. Paulo, comportaram-se como qualquer não-crente que
para saber ou não se deve abraçar a fé cristã faria. Repetimos: se os bereanos
fossem solascripturistas, colocariam, como vimos, S. Paulo em maus lençóis,
pois o apóstolo não poderia provar muitos ensinos dele pela Escritura que
possuía.
Conclusão: o caso dos bereanos em vez de demonstrar a Sola Scriptura, mostra é
a autoridade da Escritura ao lado da autoridade da Igreja. O que contraria a
Sola Scriptura.
3ª dúvida: Em
Jo 5,39, Cristo diz: ”Examinais as Escrituras....” Isso é Sola Scriptura.
Resposta: Vendo, porém, o contexto, rapidamente notamos a falha nessa afirmação.
A simples observação do versículo seguinte, pois o versículo foi citado fora do
contexto, já esclarece tudo. Vejamos o versículo completo, mais o versículo 40:
“Examinais as Escrituras, julgando encontrar nelas a vida eterna. Pois bem! São
elas mesmas que dão testemunho de mim. E vós não quereis vir a mim para que
tenhais a vida.” Pelas palavras em negrito, percebemos que Cristo está
falando com descrentes, não com todos os cristãos. Conforme o contexto, Cristo
está pretendendo demonstrar a sua divindade aos judeus, com quem Ele está
conversando. Para isso, recorre a três testemunhos: o de João Batista
(versículos 32 a 35); depois afirma que tem um testemunho maior que o de João:
suas próprias obras (versículos 37 e 38). Finalmente, recorre ao testemunho das
Escrituras (versículos 39 e 40), já que os judeus nelas eram entendidos. Veja
logo que Cristo citou duas autoridades alheias às Escrituras então existentes:
o testemunho de João e o de suas obras, para depois citar o das Escrituras.
Donde fica excluída a Sola Scriptura. Além disso, a expressão inicial não
consiste numa ordem para examinarmos as Escrituras, pois o texto quer apenas
dizer que os judeus, que criam nas Escrituras, deveriam lê-las melhor para constatar
que a divindade de Cristo era aí demonstrada. Obviamente Cristo está
reconhecendo aí a autoridade das Escrituras, mas a sua exclusividade é coisa
impossível de aí ser comprovada. Logo o texto não favorece a Sola Scriptura.
Outro detalhe: O texto demonstra explicitamente que a leitura particular das
Escrituras não foi suficiente para fazer os judeus entenderem a divindade de
Cristo. O que depõe contra o livre exame. Além disso, se esse texto provasse a
Sola Scriptura, provaria realmente o Solo Antigo Testamento.
Como Cristo, a Igreja pode e deve hoje usar esse mesmo argumento para os
solascripturistas: vocês examinam as Escrituras, julgando ter nelas a vida
eterna. Pois bem! São elas que dão testemunho de mim.
4ª dúvida: Em Jo 20,30, o Evangelista diz: "Fez Jesus, na
presença de seus discípulos, ainda muitos outros milagres, que não estão
escritos neste livro. Mas, estes foram escritos para que creais que Jesus é o
Cristo, o filho de Deus e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome."
Os solascripturistas entendem que, ainda que Jesus tenha feito muitas [outras]
coisas, somente as que se encontram na Bíblia são necessárias.
Resposta: Tudo isso é totalmente falso. Inicialmente, estaríamos nos
referindo apenas ao evangelho de S. João. Então ficaria de fora coisas
importantes como o Pai Nosso (Mateus e Lucas), a história da infância de Jesus
(Mateus e Lucas), a última ceia com pão e vinho (os sinóticos), o sermão da
montanha (Mateus) e outros pontos mais. Este versículo não está dizendo que o
que está ali basta para fazermos tratados doutrinários, mas tão somente
tentando mostrar para os judeus que Jesus é o Messias. Só que saber somente
isso não nos dará a salvação, pois até os demônios sabem que Jesus é o Messias
(Mc 5, 7), nem por isso se salvarão. Para provar que Cristo é o Messias, o
Evangelho de S. João pode até ser suficiente, mas para demonstrar outras
verdades necessárias, ele precisa de outros textos.
5ª dúvida: Inúmeras vezes Deus nos advertiu a não acrescentar, nem
diminuir e seguir fielmente sua Palavra (Dt 4,2; 12,32; Js 1,7-8; 2 Ts 3,14; Ap
22,18-19). Qualquer que contrarie esta solene orientação divina peca contra o
Senhor e denigre a Autoridade das Escrituras. Toda palavra de Deus é pura e não
está aberta a acréscimos (Sl 12,6; 119,140; Pv 30,5-6). Quem rejeita tal
princípio denigre a Suficiência da Palavra de Deus Escrita, fazendo de Deus
mentiroso e maculando a revelação divina. Na medida em que o homem imperfeito
acrescenta seus entendimentos não-inspirados naquilo que Deus perfeitamente
inspirou, toda a pureza do ensino bíblico é corrompida.
Resposta: Citar tais textos para apoiar a Sola Scriptura é pura
ingenuidade. É evidente que em nenhum desses textos Deus disse que apenas se
revelaria através da escrita. Se lermos Dt 4, por exemplo, sobre não
acrescentar ou retirar as palavras ordenadas, vemos que é Moisés quem está
ordenando. Claro que ele está passando o que Deus disse a ele, mas o contexto
mostra que estas palavras foram ditas oralmente por Moisés. Moisés tinha,
portanto, a autoridade do Magistério, o que está muito distante da Sola
Scriptura. Não há dúvida de que é palavra de Deus infalível, mas vinda por meio
de Moisés e oralmente. Moisés estava dizendo que nada deve ser acrescentado ou
retirado de suas palavras orais. Se essa ordem for entendida como Sola
Scriptura, antes ela devia ser entendida como Sola traditione. Além disso, se
entendermos que o escritor sacro está isolando a Escritura como regra de fé,
entenderíamos, então, que somente o Deuteronômio é autoridade de fé e que
deveríamos excluir todos os livros escritos posteriores. Assim, teríamos que
excluir 61 livros da Bíblia ou 68, se incluirmos os 7 livros que os
solascripturistas retiraram. Vale ressaltar, ainda, que a Igreja Católica nunca
acrescentou nada à palavra de Deus e nem jamais retirou. Logo, esse texto em
nada se refere a nós. Pelo contrário, se acreditarmos na exclusividade da
Bíblia como regra de fé, estaremos retirando algo à palavra de Deus, a Tradição
e a autoridade da Igreja, ambas confirmadas pela mesma Bíblia.
Os solascripturistas imaginam que Moisés disse a todos para ler suas leis,
estudá-las pessoalmente e pedir ao Espírito Santo para guiá-los. Mas será que
foi assim? Isso não se encontra em nenhum dos versículos citados. O Livro da
Lei foi colocado junto da Arca da Aliança (Dt 31,26), no Santo dos Santos. O
povo não podia apreciar nada no Santo dos Santos, nem interpretar
particularmente o Livro da Lei. Apenas o sumo sacerdote poderia entrar no Santo
dos Santos, que continha a Lei, e apenas uma vez ao ano (Hb 9,6-8). Isto não
tem nada a ver, pois, com Sola Scriptura.
Quanto ao texto de 2 Ts 3,14, se ele provasse a suficiência formal das
Escrituras, então, 2 Ts 3, 6 (apenas 8 versículos antes) provaria a suficiência
formal da Tradição. Como se vê, é mais lógico admitirmos que os versículos em
pauta complementam-se e juntos demonstram as duas regras de fé cristã: a oral e
a escrita. Logo, adeus Sola Scriptura.
Quanto a Ap 21, 18.19 também nada depõe contra a Tradição e a favor da Sola
Scriptura, pois a Tradição nada acrescenta à escrita, apenas a explica melhor.
Se nós acrescentamos algo à escrita, o que dizer de muitas doutrinas
protestantes, as quais estão alheias às Escrituras? O que dizer da própria Sola
Scriptura? Não é ela um acréscimo à escrita, já que ela não consta na Bíblia
sagrada? Além disso, não esqueçamos que o texto também diz que nada devemos
tirar; no entanto, os solascripturistas retiraram inúmeras doutrinas bíblicas
bem como reduziram o próprio cânon bíblico. Não é isso entrar em choque com o
próprio texto citado?
Quando essa passagem afirma que nada deve ser acrescentado ou retirado das
palavras deste livro, não estão se referindo à Sagrada Tradição sendo
acrescentada à Sagrada Escritura. Na verdade, a Tradição nem acrescenta nem
tira nada da Escritura, apenas a explica com mais clareza. É claro pelo
contexto que o livro aqui citado é o do Apocalipse, e não a Bíblia inteira.
Sabemos disso porque S. João diz que o que for culpado por acrescentar a este
livro será penalizado com as pragas escritas neste livro, evidentemente que as
pragas descritas no livro do Apocalipse. Negar isso é atentar contra o texto e
distorcer seu claro significado, especialmente pelo fato de sabermos que a
Bíblia que temos hoje não existia quando essa passagem foi escrita. Sendo assim
não poderia significar a Escritura inteira. E sendo assim, é lógico que o autor
do Apocalipse não afirmaria a exclusividade desse livro, o que negaria a
autenticidade dos outros 26 livros do NT. E mesmo se estendermos essa afirmação
à Escritura inteira, continuará sem negar a autenticidade da Santa Tradição,
pois o texto quer dizer que nada entre em choque com a Escritura. E a Tradição,
como já demonstramos, em nada se choca com a Escritura.
A mesma advertência de não acrescentar ou subtrair palavras é vista em Dt 4,2,
inclusive já analisado, que diz: “Nada acrescentareis às palavras dos
mandamentos que vos dou, e nada tirareis; assim guardareis os mandamentos do
Senhor, vosso Deus, que eu vos dou.” Se aplicarmos uma interpretação paralela
com este verso, logo tudo o que está na Bíblia além dos decretos das leis do AT
deveria ser considerado apócrifo, incluindo-se o NT! Todos os cristãos
rejeitam, evidentemente, essa conclusão. A proibição de Ap 22,18-19 contra a
adição, portanto, não pode significar que os cristãos estão proibidos de buscar
algum guia fora da Bíblia.
Quanto aos textos dos Salmos e dos provérbios, eles apenas exaltam a palavra de
Deus (e essa palavra de Deus chega até nós escrita e oralmente). Os textos não
dizem que se referem apenas aos escritos. Então, em momento algum eles
favorecem a Sola Scriptura.
Além disso, mesmo que esses textos se referissem à Escritura, não poderíamos
concluir a exclusividade da Escritura, porque não podemos deduzir essa
exclusividade a partir de textos que apenas louvam essas Escrituras. Isso se
chocaria com o texto de Apc 21, 18, objetado atrás. Enquanto há textos que
louvam as Escrituras, e isso é verdade, há inúmeros outros que também louvam a
Tradição. Veja, por exemplo: Sl 44,1; 78,5.10-11; 105,5; 143,5; Pr 2,18; Is
40,8; 59,21; Jr 6,16-17; 31,36; Dn 7,28 e Zc 1,6.
6ª dúvida: “E eu, irmãos, apliquei essas coisas, por semelhança, a
mim e a Apolo, por amor de vós, para que, em nós, aprendais a não ir além do
que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra outro." (1
Cor 4,6)
Resposta: Esse texto também não favorece a Sola Scriptura, pois o mesmo
S. Paulo que disse isso também disse:"Quisera agora estar presente entre
vós e variar [os tons da] minha voz, pois não sei o que fazer com vós"
(Gál 4,20). Se o fato de o apóstolo dizer que os coríntios não deviam ir além
do que está escrito provasse a Sola Scriptura, então, ao dizer que sua presença
é mais eficaz do que o escrito o apóstolo estaria afirmando a Sola Traditione.
Além disso, se com tais palavras o apóstolo pretendesse provar a exclusividade
de algo, provaria apenas a exclusividade do AT e de alguns pouquíssimos
escritos do NT (uns 3), que eram os únicos escritos dos anos 55 d.c, provável
data da redação dessa carta. Estaria, então o apóstolo excluindo todo o resto
de seus escritos? E o pior, estaria ele excluindo os outros livros do NT?
Além disso, não esqueçamos a expressão: “para que, em nós, aprendais”, presente
no versículo citado, a qual prova que a autoridade do apóstolo também é regra
de fé. Está explícito aí que aquilo que dizem ou que fazem os apóstolos deve
ser seguido. Logo, o texto não favorece a Sola Scriptura.
Raciocinemos ainda: será que os coríntios entenderam essas palavras de Paulo
como a enunciação da exclusividade da Escritura de que dispunham na época?
Paulo escreveu 1 Coríntios em meados de 55 d.c. Muito antes do cânon do NT ser
escrito e fixado. Como, então defendeu aqui o apóstolo essa tal de Sola
Scriptura? Mais grave: você acha que o apóstolo pretendeu convencer os
coríntios de que os escritos da época deles era a verdade exclusiva de Deus? Se
for assim, como Paulo conseguiu convencer depois esses mesmos coríntios que os
escritos que vieram depois também eram palavras de Deus? Não dissera ele antes
que apenas aquilo que tinha surgido até 55 d.c é que era Palavra divina? Como é
que agora vem convencê-los de que surgira mais palavras inspiradas? Mais ainda:
como é que depois de 55 d.c tem esse apóstolo a coragem de exortar os fiéis a
seguirem suas pregações orais (1,13-14; 2,2 e 3,14) se só foi aceitável os
escritos, e ainda pior, anteriores a essa data?
Logo, esse texto também não favorece a pretensão solascripturista.
Mas alguém poderia alegar aqui que em todos esses textos citados, o Espírito
Santo já está prevendo o futuro fechamento do cânon bíblico. Logo, eles não
podem se referir apenas aos livros nos quais estão redigidos, mas à Escritura
inteira. Entretanto, convém observarmos que mesmo referindo-se ao futuro, o que
não descartamos, todos eles têm aplicação direta no período em que foram
escritos. Assim, por exemplo, nesse texto citado de 1 Cor 4,6, não podemos
entendê-lo corretamente, se dispensarmos o contexto no qual essa carta foi
escrita. Paulo jamais poderia estar se referindo diretamente à Escritura
inteira, se claramente ele está escrevendo para a comunidade de Corinto e
estava doutrinando essa comunidade. É óbvio, pois, que o texto aplica-se
diretamente à essa comunidade. Não há, então, como entender o texto
desconsiderando esse detalhe. Sendo, assim, é necessário indagarmos o que
pretendia Paulo ensinar com aquelas palavras bem como nos questionar como a
comunidade acolheu e entendeu aquele ensino.
Consequências da Sola
Scriptura
Lamentavelmente a Sola Scriptura é a grande responsável por toda essa confusão
no seio protestante; é a responsável por essa imensa pluralidade de igrejas. Em
vez de ter trazido a paz e a concórdia entre os irmãos, trouxe foi a divisão. E
a divisão e o denominacionalismo, como todos sabemos, são vigorosamente
condenados na própria Escritura. Leia, por exemplo, Rm 16, 17; Gl 5, 20; Ef 4,
2-5. Desde o advento da Sola Scriptura e da sua consequente interpretação
particular da Escritura, o Cristianismo só fez se fragmentar. E isso é um
tremendo mal. Certa vez, num desabafo, um pastor protestante chegou a dizer que
fizeram da Palavra de Deus a mãe das heresias. É triste dizer isso, mas é a
pura realidade. No entanto, fazemos questão de enfatizar aqui que a Bíblia não
pode ser a mãe das heresias. Ela deve ser lida com amor, em espírito de oração
e não para gerar intrigas. Essa divisão é tão chocante que muitos dos próprios
evangélicos não se conformam e, não raro, desabafam o seu desagravo.
Veja o que reconhecem alguns Evangélicos sobre a divisão no seio cristão:
Calvino escrevia numa carta a Melanchton: “É de grande importância que não
passe aos séculos vindouros nenhuma suspeita sobre as divisões que existem
entre nós, porque é ridículo, acima de quanto se possa imaginar, que depois de
ter rompido com todo o mundo, nós estejamos em tão pouco de acordo desde o
início da Reforma.”
O mesmo Melanchton dizia: “O rio Elba com todas as suas águas não nos
forneceria lágrimas suficientes para chorar as desgraças da Reforma dividida.”
Em 1925, na Review of the churches, o protestante R. Roberts já lamentava:
“Pela sua acentuada tendência individualista, o movimento protestante teve uma
tendência cissípara; a sua história é uma história de contínuas divisões e
subdivisões, a ponto de o número de seitas se ter tornado e ser ainda escândalo
e objeto de mofa para todos.” (cissípara= reprodução mediante cisão do próprio
organismo).
Na International Review of missions, de janeiro de 1928, o Bispo anglicano de
Bombaim, dizia: “Nós poderíamos poder dizer aos pagãos: Aqui está a Igreja de
Cristo; porém, nossas divisões dão um desmentido. O Protestantismo professa
opiniões contraditórias e as que são falsas deveriam ser rechaçadas, não só por
amor à união, como por respeito à verdade. Em Lausanne os delegados não ousaram
tomar sobre si a responsabilidade de dizer em nome de suas seitas: Estávamos no
erro. De uma conferência deste gênero não poderá nunca surgir a união das
igrejas.”
Em 1930, era a vez da revista protestante Student Volunter Bulletin fazer o
seguinte lamento: ”A situação fragmentária de nossas igrejas é para muitos o
argumento final de que o Protestantismo não pode dar-lhes a paz e unidade que
eles buscam para as suas almas. Não é exagerado afirmar que para o latino
acostumado à unidade de Religião e de governo o escândalo da multidão de seitas
é fatal.” (Março de 1930).
Mr. Browning também disse no livro New Days in latin America, p. 176: “Quando
os católicos nos apontam as 50 e mais seitas que se esforçam em introduzir o
Evangelho na América Latina, o protestante não pode fazer outra coisa senão
calar e admitir a força do argumento.”
Também dizia o Arcebispo
anglicano de Cantuária na revista The Month de julho de 1932: “Todos deviam
reconhecer sua culpabilidade na divisão do Corpo de Cristo, divisão esta que é
contrária à vontade de Deus.”
Van Baalen, escritor da igreja Batista, no livro O caos das Seitas
reconheceu: “Na verdade, os inimigos da fé evangélica não se têm cansado de
lembrar-nos que o Protestantismo jaz prostrado e sem poder, em razão de suas
muitas divisões e subdivisões. Sem dúvida existem partidos e divisões em
demasia ─ grupos e denominações inumeráveis. Tudo isso é a grande
vergonha do mundo cristão.” (Imprensa publicadora Batista regular, S. Paulo.3ª
edição brasileira, 1977, p. 277).
Venâncio R. Santos, da Assembléia de Deus, no jornal Mensageiro da paz, nº
1208/1212, de dezembro de 1987, na p. 13, quando tratou do “ministério da
reconciliação” nas igrejas protestantes disse: ” Fiquei realmente apreensivo,
levando em consideração o fato de que muitos ministros do Evangelho pouco ou
nada estão fazendo em prol das reconciliações ao longo da seara do Mestre. Ao
contrário, muitos têm promovido desintegrações fraternas, semeando a discórdia
e patrocinando a maledicência, dividindo os filhos de Deus.” Mais adiante, ele
conclui assim o seu artigo: “Lamentavelmente, é o que mais se vê hoje, nas
ações evangelísticas: a fundação de igrejas, ultrajando o corpo de Cristo,
profanando o seu precioso sangue e sacrificando o amor e a paz sobre o
insensato altar do egoísmo, em estúpido atentado contra a fraternidade cristã.”
O pior é que nem Venâncio, nem nenhum outro protestante, pode criticar uma nova
denominação que surge porque a dele também é fruto dessa divisão e também
porque ninguém pode garantir no Protestantismo quem está certo ou errado.
O pastor pentecostal Juan Carlos Ortiz, no livro O Discípulo, dizia: “
Outra evidência desta infância são as divisões que há na Igreja. Paulo disse
aos crentes de Corinto que o fato de uns se apegarem a Pedro, a Apolo e a ele
próprio era sinal de imaturidade espiritual. Os coríntios estavam brigando
entre si. Eram partidários cada um de um pregador. Mas pelo menos estavam na
mesma Igreja.
Em nossa época, nós não conseguimos nem divergir bem. Pertencemos aos mais
diversos grupos e nos reunimos em templos separados, e falamos mal um dos
outros. Se os coríntios eram bebês em Cristo, nós nem nascemos ainda.
Em vez de melhorarmos estamos piorando. A cada ano que passa, existem mais
denominações. O corpo de Cristo nunca esteve tão repartido.”
Na p. 115 pergunta: “Qual é o nosso motivo para crucificar, ferir e dividir o
corpo (a Igreja)? Não o temos, e nosso castigo por fazermos tal coisa será mais
severo que o de Pilatos e Judas.”
Na p. 132 afirma ainda: "Não obstante o que a Bíblia ensina, também nós os
protestantes temos as nossas tradições: as denominações. Jesus tem somente uma
esposa, a Igreja. Ele não é polígamo. No entanto, chegamos até a dizer que as
denominações fazem parte da vontade de Deus. Assim nós culpamos a Deus pelas
nossas divisões e falta de amor. E depois criticamos os Católicos pelas suas
tradições. Pelo menos suas tradições são mais antigas que as nossas." (O
discípulo, p.132, Editora Betânia)
A verdade é que ao abandonar tanto a Tradição quanto o Magistério, o
Protestantismo provocou sua própria fragmentação. E hoje, infelizmente, o
"Protestantismo" abarca mais de 30.000 mil denominações doutrinária e
disciplinadamente discordes entre si, causando um flagrante escândalo ao claro
desejo de Jesus Cristo: a unidade de todos os cristãos (Jo 17, 20-21).
Os evangélicos afirmam que a Bíblia é sua única fonte de fé. Na verdade, porém,
a sua única fonte de fé é a sua própria cabeça. Usam a Bíblia apenas para
justificarem suas crenças, e, nisso, não se dão conta das infinitas
incoerências e contradições a que se submetem.
O Protestantismo combate o poder infalível da Igreja, e proclama a
infalibilidade individual de cada "crente", gerando aí o “jesus” da
minha imagem e semelhança. O orgulho humano preferiu criar um "jesus"
à sua imagem e semelhança a aceitar Nosso Senhor Jesus Cristo, cujas palavras
são às vezes duras de ouvir (Jo 6, 61). Essa idolatria (não há realmente outro
nome para a adoração de uma criação humana) é infelizmente a marca do livre-exame.
Em nome dessa libertinagem relacionada às Sagradas Escrituras surgem, no
Protestantismo, defensores das mais variadas doutrinas. Já surgiram
denominações até para homossexuais! A igreja evangélica Sino de Belém e a
Acalanto são defensoras dessa prática. Assim, tal libertinagem, infelizmente,
cria espaço para as doutrinas mais absurdas possíveis.
No começo do século XX, o Reverendíssimo Pe. Leonel Franca já chamava a atenção
para esta triste divisão protestante, baseada no método da Sola Scriptura e do
livre exame: "Na nova seita (protestantismo) não há autoridade, não há
unidade, não há magistério de fé. Cada sectário recebe um livro que o livreiro
lhe diz ser inspirado e ele devotamente o crê sem o poder demonstrar; lê-o,
entende-o como pode, enuncia um símbolo, formula uma moral e a toda esta mais
ou menos indigesta elaboração individual chama cristianismo evangélico. O
vizinho repete na mesma ordem as mesmas operações e chega a conclusões
dogmáticas e morais diametralmente opostas. Não importa; são irmãos, são
protestantes evangélicos, são cristãos, partiram ambos da Bíblia, ambos
forjaram com o mesmo esforço o seu cristianismo" ( In I.R.C. Pg. 212 , 7ª
ed.).
Obviamente por causa dessa enorme divisão protestante, o método do apenas
"lê a Bíblia" tem surtido efeito contrário. O indivíduo fica incapaz,
de fato, de chegar à verdade no sistema protestante. Ele lê a Bíblia
individualmente e apenas surgirá com outra doutrina inovadora, a qual entrará
na coleção de doutrinas do Protestantismo. Se fosse verdade a clareza das
Escrituras, então haveria apenas uma igreja protestante; no entanto, a divisão
é infindável.
Hoje, por exemplo, umas igrejas exigem o rebatismo, outras não o exigem. Umas
admitem o batismo de crianças, outras recusam-no; umas admitem o batismo por
aspersão, infusão e imersão; outras admitem só por imersão. Há denominações que
negam a presença eucarística; outras acreditam que o pão é realmente o corpo de
Cristo. Umas creem na Trindade, outras dizem que essa doutrina é pagã. Umas
guardam o sábado; outras o domingo. Umas creem na imortalidade da alma; outras
não creem. Umas negam o inferno; outras afirmam-no.
Quanto aos ministérios ordenados, uma denominação constitui Bispos, presbíteros
e diáconos; outras só presbíteros e pastores, ou pastores e anciãos, ou também
Bispos e anciãos; outras presbíteros e diáconos; outras até inventaram
Apóstolos e Bispa (embora como todos sabemos, essa última palavra nem existe. O
feminino de bispo é episcopesa); outras não admitem ministro nenhum.. Umas
igrejas ordenam mulheres, outras não. Outros pregam o "arrebatamento"
sem julgamento; outros, uma vida bem-aventurada aqui mesmo na terra; uns
doutrinam que após a morte já vem o céu e o inferno; outros ensinam que o
inferno é temporário. Há igrejas que até admitem a poligamia. Lutero mesmo
admitiu tal possibilidade: "Confesso, que não posso proibir tenha alguém
muitas esposas; não repugna às Escrituras; não quisera, porém ser o primeiro a
introduzir este exemplo entre cristãos" (Luthers M.., Briefe, Sendschreiben
(...) De Wette, Berlin, 1825-1828, II. 259 ).
Essa problemática divisão no Protestantismo é a maior demonstração de que ele não
pode estar com a verdade. Sobre isso, tratou Lúcio Navarro (autor recifense) no
seu livro já citado “Legítima interpretação da Bíblia”:
“Era muito conceituado, em certa cidade, um professor que ensinava, havia 50
anos. As noções que ele ministrava sobre a matemática, a história, a geografia,
a língua vernácula etc., as tinha recebido de outros mestres, ainda mais
antigos e tão conceituados como ele, os quais por sua vez também já haviam
aprendido de outros preceptores. Mas um dia apareceu um jovem aluno que se
rebelou contra o ensino de seu mestre. Não lhe agradava o método usado naquelas
aulas, nem concordava com o que nelas se aprendia. A seu ver, estava tudo
errado. E resolveu abrir uma nova escola, em oposição à do velho e ministrando
uma instrução completamente diversa. Mas todo o mundo notou logo que o ensino
do jovem revolucionário era completamente desordenado: o moço titubeava,
confundia-se, caía em evidentes contradições. Isto serviu para aumentar o
prestígio do velho professor, que podia agora dizer com desdém de seu
antagonista: vá estudar, menino, porque você ainda não está em condições para
abrir uma escola!
O grande navio, pertencente a uma antiga empresa de navegação, singrava os
mares em demanda do seu destino, quando o velho comandante foi surpreendido
pela revolta de muitos passageiros, que o procuravam para protestar. O navio,
segundo eles diziam, estava seguindo uma direção completamente errada. Pois
eles entendiam também de navegação... Embora lhes faltasse a longa experiência,
tinham, no entanto em mãos o mesmo livro, os mesmos mapas que serviam de guia
ao comandante e a seus auxiliares e tinham chegado à mesma conclusão de que
estes estavam redondamente enganados. E diante da recusa do comandante a
modificar sua rota, resolveram em nome da liberdade, abandonar o navio,
construir, eles próprios, suas embarcações e seguir e seguir o caminho que lhes
parecia mais acertado. Boa sorte! – respondeu-lhes o comandante. Mas os
passageiros que ficaram a bordo, que tinham confiança na velha empresa, no
navio, naqueles que o dirigiam, nem tiveram tempo para ver surgir no seu
espírito qualquer sombra de dúvida, porque logo observaram que aqueles que
protestaram coalhavam o mar de barcos e barquinhos e barcaças de toda
qualidade, mas cada um seguia um rumo diferente...
Esta é precisamente a história do choque entre o Protestantismo e a Igreja
Católica. Alguém que esteja de parte observando a luta doutrinária, sem ser nem
de um lado nem de outro, ao ver a grita dos protestantes e o entusiasmo com que
vivem a citar a Bíblia, pode ainda ficar com uma certa nuvem de dúvida no seu
espírito sobre se a Igreja está mesmo em perfeito acordo com as Escrituras.
Mas, se tiver o cuidado de ver os protestantes, como são, como divergem, como
discutem, como titubeiam e se contradizem, verá aumentar aos seus olhos o
prestígio da Igreja. Ela é o antigo mestre a rir-se dos ardores do jovem
revolucionário ou como o velho comandante a achar graça na cegueira dos
barqueiros improvisados. Sim, porque uma coisa está clara à vista de todos:
dizer que alguém está errado é muito fácil, porque falar é fôlego e cada um tem
o seu modo de pensar. Mas há também o reverso da medalha: quem acusa a outro de
estar em erro, tem a obrigação de mostrar como é o certo. E é aí que se mostra
com evidência todo o fracasso do Protestantismo.”
A seguir ele acrescenta: “Há no protestantismo doutrinas inteiramente
contrárias umas às outras e onde há contradição há erro, todos sabem disso,
porque o mais universal de todos os princípios é de que uma coisa não pode ser
e deixar de ser ao mesmo tempo.”
Foi feita uma pesquisa nos Estados Unidos demonstrando que entre os critérios
para um evangélico escolher sua nova igreja é o tamanho do estacionamento. É
isso o que é hoje o Protestantismo. E a grande responsável por toda essa
balbúrdia é justamente a Sola Scriptura.
Se procurarmos a vantagem dessa doutrina inventada há apenas quinhentos anos,
veremos que o que ela causou foi essa enorme divisão no Protestantismo: uma
clara demonstração de que se trata de doutrina meramente humana!
Krogh Tonning, famoso teólogo protestante norueguês, convertido ao Catolicismo
já afirmava: "Quem trará à nossa presença uma comunidade protestante que
está de acordo sobre um corpo de doutrina bem determinado? Portanto uma
confusão (é a regra) mesmo dentre as matérias mais essenciais" (Le
protest. Contemp., Ruine
constitutionalle, p. 43 In I.R.C., Franca, L., pg 255. 7ª ed, 1953).
O próprio Lutero que apoiou-se nessa equivocada doutrina reconheceu os
malefícios que ela iria causar pelos séculos afora: "Este não quer o
batismo, aquele nega os sacramentos; há quem admita outro mundo entre este e o
juízo final, quem ensina que Cristo não é Deus; uns dizem isto, outros aquilo,
em breve serão tantas as seitas e tantas as religiões quantas são as
cabeças" (Luthers M. In. Weimar, XVIII, 547; De Wett III, 6l ). E mais
sério ainda: "Se o mundo durar mais tempo, será necessário receber de novo
os decretos dos concílios (católicos) a fim de conservar a unidade da fé contra
as diversas interpretações da Escritura que por aí correm" (Carta de
Lutero à Zwinglio In Bougard, Le Christianisme et les temps presents, tomo IV
(7), p. 289).
O protestante Samuel Weren Fels disse que na Bíblia cada qual procura seus
dogmas e nela os encontra.
Existem, no mundo de hoje, aproximadamente 30.000 denominações protestantes.
Como poderemos explicar tais divisões? Cada uma afirma ensinar a verdade. São
30.000 espíritos santos revelando cada verdade? Ou existe apenas um Espírito
Santo revelando uma verdade diferente para cada uma delas? Como explicar a
razão de existir 30.000 divisões no Protestantismo e todas usando a mesma
Bíblia? E o interessante é que todas garantem que estão sendo verdadeiras
intérpretes da Escritura. É incrível isso. Difícil é saber realmente quem está
certo diante de tão enorme divisão.
Os protestantes geralmente afirmam que todos concordam "nas coisas
importantes". Mas, onde é que ocorre isso? Além do mais, quais são essas
coisas importantes? Ainda, quem é capaz, afinal, de decidir com autoridade
dentro do Protestantismo o que é importante na fé cristã e o que não é, se o
livre exame nega a existência de uma autoridade?
Diante de tudo isso, os solascripturistas alegam que a Tradição também não
impediu a divisão doutrinária entre nós católicos e ortodoxos e nem mesmo entre
nós católicos. No entanto, embora a Sagrada Tradição não tenha impedido a
divisão doutrinária entre Católicos e Ortodoxos, pela própria natureza desta
divisão, ela não corrobora com isto, ao contrário da Sola Scriptura (já que
embute em si própria a doutrina do Livre Exame, que torna cada leitor o seu
próprio mestre.). Contrariamente à Sola Scriptura, é exatamente a Sagrada
Tradição que possibilita o encontro de cristãos católicos e ortodoxos. Quanto à
divisão no seio do próprio Catolicismo notemos também que ele é facilmente
solucionável: quando um católico se vê diante de ideias conflitantes, ele
consulta a posição oficial da Igreja e relaxa tranquilo, pois ele tem certeza
que a interpretação eclesiástica lhe responde séria e verdadeiramente. Como
dizia Sto. Agostinho: “Roma locuta, causa finita est.” (Roma falou, acabou-se a
questão). No Protestantismo, porém, é totalmente o inverso, porque quando um
fiel é acometido de uma dúvida doutrinária e ele vai a um pastor para tirar-lhe
a dúvida, irá deparar-se com uma opinião particular, pessoal, consequentemente
ele não relaxará tranquilo. De fato, no sistema protestante é impossível alguém
ter a certeza plena daquilo que diz crer, pois eles confessam abertamente que
não há autoridade infalível para nos explicar a Bíblia. E como dizem isso e
confessam não serem infalíveis (e se dissessem seriam usurpadores), como,
então, poderá um evangélico relaxar tranquilo crente de que crer na verdade? E
aqui ocorre o que eu acho interessante: é que apesar de confessarem a sua
falibilidade, os solascripturistas ainda querem nos convencer de que nós
católicos interpretamos erradamente as Sagradas Escrituras e que eles é que são
os legítimos intérpretes. Como, eu não sei, pois diante da Babel de
interpretações não sei no que afinal querem que nós católicos creiamos. Além
disso, com que pretensão fazem isso, pois se eles não são autoridades
definitivas na interpretação bíblica, como querem nos coagir na nossa
interpretação? Afinal, todos têm direito à livre-interpretação, menos nós
católicos? Há algum versículo bíblico que proíbam os católicos de livremente
interpretarem sua Bíblia? Onde?
Na realidade, no sistema protestante ninguém pode garantir quem interpreta
certo ou errado a Bíblia. Primeiro porque não acreditam em uma autoridade final
para nos garantir essa única interpretação e segundo, porque qualquer
denominação pode reivindicar o seu direito do livre-exame. Que autoridade tem
qualquer denominação para garantir que a interpretação da outra é errada e que
só a dela é a certa?
Certa vez disse Nosso Senhor: "Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore
má dá maus frutos" (Mateus 7:17). Se julgarmos a Sola Scriptura pelos seus
frutos, chegaremos a conclusão de que essa árvore deve ser cortada, e lançada
ao fogo (Mt 7,19).
O que
ensinou Paulo e Lucas sobre Sola Scriptura
- Uma resposta ao Cacp
I - O que Paulo ensinou
sobre Sola Scriptura aos Coríntios?
O contexto maior de I Cor 4:6 vai do capítulo 1 ao 4. O contexto é claro em
mostrar que naquela época a comunidade de Corinto estava começando a seguir os
homens em vez de seguir a Palavra de Deus. Por isso houve até divisões dentro
da igreja por essa causa, pois um grupo dizia "...Eu sou de Paulo; ou, Eu
de Apolo; ou Eu sou de Cefas; ou, Eu de Cristo." [1.12] Não é isso o que
acontece hoje com os católicos romanos quando se ufanam em dizer que pertencem
à cátedra de Pedro? Com isso eles estão violando o que Paulo disse aqui.
Gostaríamos de alistar aqui quatro textos que formam uma unidade contextual e
prova que Paulo ensinava a necessidade das Escrituras ao invés de seguir as
tradições humanas, são eles Mt 16:18 + I Cor 1:10-13 + I Cor 3:5-17 + I Cor
4:6.
1. "Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei
a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela;" [Mt
16:18]
2. "Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei eu como sábio
construtor, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como
edifica sobre ele." [I Co. 3.10]
3. "11 Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está
posto, o qual é Jesus Cristo." [I Co. 3.11]
4. "Ora, irmãos, estas coisas eu as apliquei figuradamente a mim e a
Apolo, por amor de vós; para que em nós aprendais a não ir além do que está
escrito..." [I Co. 4.6]
Observe que Paulo não disse, " para que em nós aprendais a não ir além das
tradições orais que vos temos dado". Ao invés disso Paulo coloca toda
ênfase nas Escrituras.
Junta-se a isto o fato
de que nesta época (c. 54 d.C) apenas uma porcentagem do NT estava escrita.
Somente por volta de 90-100 é que completou o cânon do NT. Mesmo assim Paulo
não incentivou a igreja a confiar na tradição oral, mas nas Sagradas
Escrituras. Mas voltando ao assunto, veja que Paulo aplicou metaforicamente a
ele, Apolo e outros líderes como Pedro, as figuras de "lavrador" e
"construtor".
Agora vamos fazer a
conexão: Jesus disse que era a rocha (fundamento) e que sobre Ele mesmo iria
edificar ou construir sua igreja. Paulo diz que este trabalho [de edificar
sobre o fundamento] caberia aos líderes das igrejas como ele mesmo, Apolo,
Pedro e outros. Mas não era para os cristãos depositarem sua fé nas figuras [os
apóstolos] mas na Palavra escrita. Não era Pedro ou Paulo, não era uma suposta
tradição oral, mas era a Palavra escrita que não era para ser ultrapassada.
Jesus pretendia construir ou edificar sua igreja através do ensino da sua
Palavra e não através de Pedro ou Paulo.
Jesus disse, "sobre esta pedra edificarei a Minha igreja" e Paulo
recomendou ao edifício que é a igreja a não exceder as Escrituras.
II - O que Lucas ensinou sobre Sola Scriptura?
"Visto que muitos têm empreendido fazer uma narração coordenada dos fatos
que entre nós se realizaram, segundo no-los transmitiram os que desde o
princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra, também a mim,
depois de haver investido tudo cuidadosamente desde o começo, pareceu-me bem, ó
excelentíssimo Teófilo, escrever-te uma narração em ordem. Para que tenhas
plena certeza das coisas em que foste ensinado." [Lucas 1.1-4]
O prefácio do evangelho de Lucas subentende que na época já havia histórias da
vida de Jesus sendo transmitidas oralmente. Mas note que Lucas não diz a
Teófilo para se apoiar nestas tradições, nem tampouco confiar nelas. O que tudo
indica que naquela época as informações sobre a vida de Jesus e seus
ensinamentos não eram totalmente seguras. Então ele diz a Teófilo que após
investigar cuidadosamente os fatos resolveu escrever uma narração em ordem
sobre a vida do mestre para que seu amigo pudesse ter "a plena
certeza" das coisas em que foi ensinado.
Lucas 1:1-4 mostra claramente a superioridade da Palavra escrita sobre a
tradição oral que os católicos tanto defendem.
Pense bem, se a tradição oral pudesse por si mesma transmitir a certeza das
coisas, não haveria necessidade de Lucas colocar em forma escrita o evangelho!
Obviamente havia muitas tradições orais diferentes além das palavras dos
apóstolos. Teófilo não era capaz de discernir por si mesmo quais destas
tradições orais eram verdadeiras ou não. Unicamente através da Palavra escrita,
Teófilo pode saber a verdade acerca de Cristo.
Fonte: Traduzido e adaptado de diversos sites pela equipe do CACP.
Nossa Resposta:
Meu Deus, não sei como é que diante de tantas passagens paulinas e lucanas que
claramente enunciam a autoridade da Tradição e da Igreja pode alguém ainda ter
a ousadia de afirmar que esse apóstolo e esse evangelista eram
solascripturistas. Para cometerem esse grande absurdo, claro, terão que
desvirtuar o verdadeiro sentido dos textos bem como isolar outros. Não há outra
saída. É o que acontece com os artigos do Sr. Paulo Cristiano, presidente do
Cacp. Mas analisemos as objeções desse pastor:
I - O que Paulo ensinou sobre Sola Scriptura aos Coríntios?
A resposta é curta: nada. Nada esse apóstolo ensinou sobre essa heresia. Ao
contrário, inúmeras vezes ele testemunhou a autoridade da Tradição e da Igreja.
Os 4 textos citados (Mt 16,18 + 1 Cor 1,10-13 + 1 Cor 3,5-17 + 1 Cor 4,6), que
juntos, conforme a pretensão do pastor, provariam a falsa doutrina da Sola
Scriptura, realmente nada provam em favor dela. De fato, o primeiro texto, como
todos já sabemos, demonstra, contrariamente aos anseios de Cristiano, a
primazia de S. Pedro.
A pedra ali só pode ser Pedro, pois todo o contexto gira em torno dele. E é
regra de hermenêutica não isolar o texto do contexto. É claro que o fundamento
primário é o próprio Cristo. É dele que emana a função petrina do apóstolo
Pedro. Por isso, os dois outros textos enfatizam Cristo como o fundamento da
nossa fé. O que não contradiz a primazia do filho de Jonas. Em outro lugar da
Escritura se diz que Cristo é luz e depois a mesma Escritura diz que os
cristãos também são luzes, sem haver contradição nisso (Jo 8,12; Mt 5,14). Os
discípulos são a luz do mundo quando iluminados pela luz do Cristo. Assim
também, Pedro é pedra, o fundamento da Igreja por ser ele dirigido e sustentado
pela firmeza, pelo fundamento maior, Jesus Cristo. Não há, portanto, nenhuma
contradição nisso.
Quanto ao último texto, é
evidente que o apóstolo Paulo não pretende aí contradizer aquilo que ele dizia
em inúmeros outros textos a favor da Tradição (1 Cor 11,3; 2 Ts 2,15 e 2 Tm
2,2, p. ex.). Além disso, não estava o apóstolo orientando os coríntios a
rejeitarem a Tradição quando naquela época ainda não se tinha o NT como o temos
hoje. Nem sequer todos os escritos do NT estavam redigidos.
Juntando-se esses 4 textos, eles provam apenas que devemos ter o Senhor Jesus
como o centro de nossa fé e que devemos, pois, crer em tudo o que ele diz,
inclusive no primado do apóstolo Pedro.
Afirma o pastor que esses 4 textos provam que “que Paulo ensinava a necessidade
das Escrituras ao invés de seguir as tradições humanas,” Não negamos que Paulo
ensinava a necessidade das Escrituras, e isso a Igreja sempre o fez também. Mas
o Cristiano terá que convir que nesses textos não se fala da necessidade das
Escrituras.
Principalmente no sentido que pretende o pastor cacpista. Diz o pastor adiante
que Paulo rejeitava “tradições humanas”. Mas isso, pastor, a Igreja Católica
também o faz. É claro que tradições humanas devem ser rejeitadas. Justamente
por isso é que a Igreja rejeita a Sola Scriptura porque ela é uma tradição
humana. Ela é uma inovação doutrinária surgida apenas no século XVI. Agora, se
Vossa Senhoria pretende dizer que a Tradição da Igreja de Cristo é tradição
humana, então, aí é que está o seu grande equívoco, pois até agora nunca,
nunquinha, vi um defensor da Sola Scriptura provar convincentemente o que vocês
contraditoriamente afirmam.
Mais, pastor: como Paulo estaria orientando os coríntios a se apegarem apenas
ao que estava nas Escritura e rejeitando qualquer Tradição, se ele considerava
suas pregações orais infalíveis (Gl 1,11; 1Tes 2, 3.4.13) e se ele em outro
momento recomenda a guarda das tradições escritas ou orais (2Ts 2,14.15)? Você
está querendo dizer que o apóstolo Paulo se contradiz? Ou pior: está dizendo
que o Espírito Santo, verdadeiro autor das Escrituras, se contradiz?
Quanto ao argumento tirado de 1Cor 1, 12 nada depõe contra nós. Ao contrário,
depõe contra os solascripturistas os quais estão divididos em diversas igrejas,
e justamente por causa da Sola Scriptura. Repetimos a pergunta do apóstolo:
“está Cristo divido?”, pergunta presente logo no versículo seguinte: o 13. Nós
católicos reconhecemos que somos de Cristo, e tão somente dele. Só que
aceitamos de Cristo o primado de Pedro, instituído por ele mesmo, conforme se
lê no próprio texto de Mt 16,18, citado no texto de Cristiano. Paulo aqui não
nega a primazia petrina, como pretende o presidente do Cacp. O que o apóstolo
está questionando é nos dividirmos por causa de preferência por certos
apóstolos, quando o importante é Cristo. Além disso, não fomos nós católicos
que nos dividimos, mas os protestantes que se dividiram de nós. Logo, o texto
mais uma vez critica os solascripturistas.
Se eu fosse Paulo Cristiano, jamais lembraria que 1 Coríntios fora escrito em
meados de 54 d.c, portanto, antes de diversos escritos do NT, pois isso é um
fortíssimo argumento contra a doutrina que ele pretende defender. De fato,
perguntamos ao pastor: você acha que os coríntios entenderam essas palavras de
Paulo como a enunciação da exclusividade da Escritura de que dispunham na
época? Mais grave: você acha que o apóstolo pretendeu convencer os coríntios de
que os escritos da época deles era a verdade exclusiva de Deus? Se for assim,
como Paulo conseguiu convencer depois esses mesmos coríntios que os escritos
que vieram depois também eram palavras de Deus? Não dissera ele antes que
apenas aquilo que tinha surgido até 54 d.c é que era Palavra de Deus? Como é
que agora vem convencê-los de que surgira mais palavras inspiradas? Mais ainda:
como é que depois de 54 d.c tem esse apóstolo a coragem de dizer que suas
pregações orais são infalíveis (Gl 1,11; 1Tes 2, 3.4.13)?
Logo, São Paulo não
ensinou Sola Scriptura.
II - O que Lucas ensinou
sobre Sola Scriptura?
A resposta é a mesma que demos quanto ao apóstolo Paulo: nada. Como Paulo,
Lucas, realmente, nada ensinou sobre Sola Scriptura. Ao contrário, ensinou
totalmente o contrario. Vejamos o texto inicial desse evangelista comentado
pelo articulista protestante:
Ainda antes de escrever os quatro evangelhos, conforme afirma Lucas no introito
do seu evangelho, muitos tentaram escrever sobre Jesus: “Muitos empreenderam
compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós” (Lc 1,1). O
próprio Lucas reconhece que antes de escrever o seu evangelho endereçado a
Teófilo, ele consultou pessoas que foram testemunhas oculares da pregação de
Cristo (Lc 1,3).
Sendo assim, Lucas demonstra explicitamente que seus escritos basearam-se na
Tradição oral dos apóstolos. Na tentativa de escapar da força da afirmação de
Lucas, Paulo Cristiano alega que embora o prefácio desse evangelho subentenda
“que na época já havia histórias da vida de Jesus sendo transmitidas oralmente,
Lucas não diz a Teófilo para se apoiar nelas, muito menos confiar nelas.” E
depois acrescenta os argumentos, que como se vê atrás, não respondem
satisfatoriamente a nossa afirmação acima.
Toda a objeção de Paulo Cristiano não explica, como vimos, por que Lucas
baseou-se na Tradição oral, conforme ele mesmo confirma ao dizer “como no-lo
transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares” (v. 2) e
ainda “também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado
tudo desde o princípio...”. O testemunho oral dos apóstolos foi, realmente, o
guia mestre do relato de S. Lucas. Mais: o evangelista aqui está dizendo que
muitos tentaram escrever acerca de Jesus, mas que tais escritos não são
totalmente fidedignos porque não se basearam na Tradição recebida dos apóstolos,
testemunhas oculares da vida do Senhor. Ele, ao contrário, pesquisou diligentemente,
ou seja, conseguiu das testemunhas oculares a verdade sobre Cristo e essa
verdade ele passou a Teófilo.
Sendo assim, Lucas
admitiu, realmente, que havia inúmeras tradições sobre Cristo, inclusive
escritas, mas acrescenta que as verdadeiras são apenas aquelas colhidas
diretamente das testemunhas oculares, no caso os apóstolos. Como se vê, o
evangelista não nega a autenticidade da Tradição, mas apenas distingue a verdadeira
Tradição recebida dos apóstolos daquelas meras especulações. Assim, Lucas está
duvidando da autenticidade dessas especulações, não da Tradição oral, na qual
ele afirma categoricamente ter se baseado para fazer seu relato. Lucas, então,
não diz a Teófilo para se apoiar nestas tradições falsas, muito menos confiar
nelas, mas não nega a autenticidade da verdadeira Tradição.
Observemos que Lucas questiona a veracidade não só de algumas tradições orais
como também de algumas escritas, o que demonstra que para Lucas o problema não
é a Tradição, mas a procedência dessa Tradição. Oral ou escrita, só conserva a
autenticidade se provier dos apóstolos: "que vos aparteis de todos os que
andam em desordens e não segundo a tradição que receberam de nós" (2 Tes
3,6). E isso é exatamente a fé da Igreja Católica.
Outro detalhe: Em nenhum momento Lucas está desvalorizando o oral, senão seria
contradição. Ele mesmo baseou-se no oral para escrever. O que ele diz no
versículo 4 é que escreveu, confirmando para Teófilo a autenticidade do que
este recebeu oralmente. Após colher essas informações dos apóstolos e antes
mesmo de escrever elas eram fidedignas. O evangelista está, pois, dizendo:
Teófilo, das muitas coisas que você ouve ou lê sobre Nosso Senhor, verdadeiras
são apenas estas que vou te passar agora, porque as colhi dos próprios
discípulos diretos de Cristo, ou seja, porque colhi da autêntica tradição. Não
porque as escreveu, obviamente. Notemos que, segundo Lucas, o que autentica o
escrito é a procedência da Tradição da qual se colheu o que foi escrito. Assim,
o Evangelho lucano é veraz porque está embasado na verdadeira Tradição, a
Tradição dos apóstolos, os ouvintes diretos do Senhor. Não é o escrito que dá
validade ao oral, mas o contrário: é o oral que autentica o escrito.
Aconteceu aqui exatamente
o que ocorreria nesta suposição a seguir: imaginemos que sobre o presidente da
república fossem levantados vários boatos. Um pesquisador, no entanto, diante
de tantos comentários decidisse investigar os fatos e depois de uma completa
averiguação escrevesse tais fatos para alguém, dizendo que o que ele vai narrar
é a verdade, pois ele fez uma minuciosa investigação. Perguntamos: está esse
pesquisador afirmando que seus escritos são a única fonte verdadeira ou está dizendo
que o escrito e o que foi colhido das testemunhas constituem essa fonte
fidedigna?
Não se vê que o escrito
apenas confirma a veracidade do testemunho ocular?
Note-se que Lucas não escreveu seu evangelho para invalidar a Tradição que
recebera, mas apenas para confirmar, como vimos, a veracidade desta mesma
Tradição. Isso é apenas a confirmação das palavras de Paulo em 2 Ts 2, 14.15
que diz que o oral e o escrito devem ser conservados.
Além disso: Lucas não está dizendo que o oral só é reconhecido como autêntico
quando vem escrito, pois com certeza os ensinos citados eram autênticos, mesmo
antes de serem relatados ou mesmo que não o fossem. Ou será que Lucas colheu
erros dos apóstolos e os transformou miraculosamente em verdades? Ou será que
os apóstolos só falaram a verdade ao escreverem? E suas pregações? Eram falsas?
E o que dizer de 1Ts 2, 3.4, no qual S. Paulo claramente afirma a
infalibilidade de suas pregações orais?
Ainda: a afirmação de que
Teófilo não conseguiria sozinho distinguir a verdadeira da falsa tradição, não
é um tremendo golpe no livre-exame? E por consequência na Sola Scriptura, já
que aquela está embutida nesta? Por que Lucas teve que investigar essas
verdades dos apóstolos? Não prova isso uma submissão à autoridade apostólica?
Afirmar que somente pelo escrito é que Teófilo conheceria a verdade, complica a
situação do pastor, pois leva-nos a perguntar: e a situação do próprio Lucas?
Se o oral não é fidedigno, por que Lucas baseou-se nele? Além disso, se Teófilo
só conheceria a verdade sobre Cristo pelo escrito, e Lucas, por que esse
evangelista descobriu essa verdade, passada a Teófilo, pela via oral, quando
ainda não havia escrito o seu Evangelho?
Se Lucas está desconfiando de algo, e de fato está, esse algo não é a Tradição,
mas as tradições orais e escritas daqueles que não levaram em consideração a
Tradição dos apóstolos. Logo, Lucas não desmerece a importância da Tradição
apostólica para aquilo que ele compôs. A preocupação de Lucas é exatamente a
mesma de Papias, escritor do 2º século: ”Não andei procurando inovadores de
idéias peregrinas, mas o código divino da fé, promulgado pela mesma verdade. Se
eu me encontrava com quem tinha convivido com presbíteros, procurava
conhecer-lhes as sentenças, o que tinham dito André ou Pedro, Filipe ou Tiago,
João ou Mateus, ou algum outro dos discípulos do Senhor. Estava persuadido de
que o proveito tirado das leituras não poderia estar em confronto com o que eu
conseguia da palavra viva e sonora” (Euseb., Hist. Eccl. 3, 39, Migne, 20,
297). Esse testemunho de Papias bem como o de Lucas contradizem totalmente a
Sola Scriptura, pois esta nega a Tradição como suporte para a escrita. Em
outras palavras, eles estão dizendo que o escrito e o oral são dignos de
credibilidade.
Um outro detalhe importante nesse contexto de Lucas é o que ele afirma no 3º
versículo “também a mim, me pareceu bem...escrevê-los para ti...”. Ora, se
Lucas pretendeu escrever um livro que segundo os solascripturistas seria a
única regra de fé, por que, porém, o evangelista diz que escreveu tão somente
porque lhe pareceu bem? E mais: e por que ele escreveu para uma pessoa
particular, no caso, Teófilo, e não para a Igreja inteira? Não se vê o caráter
circunstancial do escrito lucano? Não se vê por aí que o evangelista não escreveu
para fazer um livro que se tornaria a única regra de fé?
Quando o Evangelista diz no versículo 4 que escreveu para que Teófilo “tenha
solidez dos ensinos que ele recebera”, não está dizendo que somente o escrito
daria solidez à fé de Teófilo. Lógico que não. Qualquer leitor vê que isso não
pode ser concluído do texto. Primeiro, notemos que Lucas fala em ensino que
Teófilo já havia “recebido”, o que prova o caráter oral e autoritativo da
mensagem cristã. Segundo, observe-se que o Evangelista está apenas dizendo que
escreveu, baseado no testemunho dos apóstolos, testemunhas oculares, para
confirmar a veracidade daquilo que Teófilo já recebera via oral. E o que
garante a veracidade do que Lucas escreveu? O escrito por si só? Não! O que
garante a veracidade de seus escritos é a fonte na qual ele se fundamentou: o
testemunho oral das testemunhas oculares, a saber, os apóstolos.
Logo, Lucas também não ensinou Sola Scriptura. E se nem Lucas nem Paulo
ensinaram Sola Scriptura, então, essa doutrina não é bíblica. E se não é
bíblica deve ser rejeitada, pois como enuncia o próprio conceito
solascripturista: só é aceitável aquilo que consta na Bíblia.
Portanto, adeus Sola Scriptura !!!!!!!!!
O testemunho da Igreja
primitiva depõe contra a Sola Scriptura
Uma outra prova
incontestável de que a Sola Scriptura jamais foi usada pelos primeiros cristãos
é a sua total ausência nos escritos dos Pais da Igreja. E o pior: a Sola
Scriptura não só está ausente dos antigos escritores como também esses Pais
contradizem totalmente essa doutrina.
Se a Sola Scriptura fosse verdadeira, ao verificarmos os escritos dos Pais da
Igreja ali a acharíamos. No entanto, não achamos lá nada que insinue a
doutrina. O que acharemos é eles defendendo a Fé baseando-se nas Escrituras e
no ensino oral dos apóstolos, como também reconhecendo a autoridade
interpretativa da Igreja, e isso logicamente depõe contra a Sola Scriptura. A
Sola Scriptura exige SOMENTE a Escritura e nega a autoridade da Igreja e da
Tradição. Percorramos, porém, os escritos dos antigos Pais e vejamos que
testemunho quanto a isso eles nos deixam:
Recomendamos ao leitor que a cada testemunho patrístico lido se pergunte: diria
isso tal pai da Igreja, se ele cresse que a Escritura é mesmo a única regra de
fé?
São Clemente de Roma (+100) disse-nos: "Devido às repentinas e repetidas
calamidades e desventuras que se têm abatido sobre nós, precisamos reconhecer
que tardamos um pouco em voltar nossa atenção para os assuntos de disputas
entre vocês, amados; e especialmente a abominável e ímpia rebelião, alienígena
e estrangeira aos eleitos de Deus, que umas pessoas temerárias e rebeldes
inflamaram a tal loucura que o seu nome venerável e ilustre, digno de ser amado
por todos os homens, têm sido difamado. " (Carta aos Coríntios, Palestra,
80 D.C).
Ainda na mesma carta, diz ele: "Se, porém, alguns não obedecerem ao que
foi dito por nós, saibam que se envolverão em pecado e perigo não pequeno"
(Carta aos Coríntios 59,1).
Diz ainda o santo: "Aceitem o nosso conselho e não terão nada a
lamentar." (Carta aos Coríntios 58,2).
Escreve ainda ele: “Sigamos a gloriosa e veneranda norma da nossa tradição.”
S. Clemente aqui explicitamente reconhece a Tradição e o Magistério da Igreja.
S. Inácio de Antioquia, martirizado no ano 107, conforme o historiador Eusébio
de Cesaréia, "Advertia, antes de tudo, as igrejas das diversas cidades,
que evitassem, sobre todas as coisas, as heresias que começavam então a se
alastrar e exortava-as a se aterem tenazmente à Tradição dos Apóstolos"
(Euséb., Hist. Eccles., 3, 36 / MG, 20, 287); "Antes exortei-vos a vos
conservardes unânimes na doutrina de Deus, pois Jesus Cristo nossa vida
insepar-vel, é a doutrina do Pai, como a doutrina de Jesus Cristo são os bispos
constituídos nas diversas regiões da terra" (S. Inácio, in Ad Ephesios,
3-4).
"Onde quer que o Bispo apareça, deixe o povo estar; assim como onde quer
que Jesus Cristo esteja, lá está a Igreja Católica." (Sto Inácio. Carta
aos Cristãos de Esmirna 8,1).
"De maneira semelhante, que todos respeitem os diáconos como eles
respeitariam Jesus Cristo, e assim como eles respeitam o Bispo como uma
tipologia do Pai, e os presbíteros como o Concílio de Deus e o colégio dos
apóstolos. Sem estes, não se pode chamar de uma Igreja." (Sto. Inácio.
Carta aos Trallians 3,1).
Não há dúvida, nesses comentários Sto. Inácio aponta para a autoridade do
Magistério eclesiástico e para a Tradição.
S. Policarpo de Esmirna, discípulo de S. João Evangelista (+156) chama a
Tradição de “a palavra que nos foi transmitida desde o princípio.” (Filip. 7,2;
cfr. 3,2; 4,2). No capítulo XI, na carta a Diogneto tem-se: ”Desde que me
tornei discípulo dos apóstolos, sou doutor do povo. O que me foi transmitido,
ofereço-o aos discípulos, que são dignos da verdade.”
Veja também o testemunho de Sto. Irineu de Lião (+202): "Quando são
[os gnósticos] vencidos pelos argumentos tirados das Escrituras retorcem a
acusação contra as próprias Escrituras, (...) E quando, por nossa vez, os
levamos à Tradição que vem dos apóstolos e que é conservada nas várias igrejas,
pela sucessão dos presbíteros, então se opõem à tradição." (Contra as
Heresias 2,1-2 Livro III).
Sto. Irineu também disse: "(...) Mas, quando os hereges acusam as
Escrituras, como se as mesmas estivessem erradas, fossem desautorizadas,
mutantes e como se nelas não pudessem encontrar qualquer verdade por aqueles
que são ignorantes na Tradição... E, quando em desafio, nós lhes apontamos a
mesma Tradição, que nos veio dos apóstolos, que é resguardada pela sucessão dos
antigos nas igrejas, eles se opõem a esta Tradição, julgando-se mais sábios,
não somente do que os antigos, mas, igualmente, do que os apóstolos."
(Contra as Heresias)
"Sob Clemente, havendo nascido forte discórdia entre os irmãos de Corinto,
a Igreja de Roma escreveu-lhes uma carta enérgica, exortando-os à paz,
reparando-lhes a fé, e anunciando-lhes a Tradição que havia pouco tinham
recebido dos apóstolos" (Contra as Heresias 3, c.3,n.3) ; "Aí está
claro, a quantos querem ver a verdade, a tradição dos apóstolos, manifesta em
toda a Igreja disseminada pelo mundo inteiro..."(Contra as heresias 3, 3,
1); "Não devemos buscar nos outros a verdade que é fácil receber da
Igreja, pois os apóstolos a mãos cheias, versaram nela, como em riquíssimo
depósito, toda a verdade... Este é o caminho da vida" (Idem, In Contra as
heresias 3, 4, 1); "E se os apóstolos não nos houvessem deixado as
Escrituras, não cumpria seguir a ordem da Tradição por eles ensinada a quem
confiavam à sua Igreja? Esta norma é seguida por muitos povos bárbaros que
creem em Cristo sem papel e sem tinta, enquanto possuem a mensagem da salvação,
escrita em seu coração pelo Espírito Santo e ciosamente conservam a antiga
Tradição." ( Idem, In contra as heresias 3, 4,1)
Santo Irineu na mesma obra escreveu: "Desde então, a mesma Tradição
dos apóstolos existe na Igreja, e permanece conosco (...). “ (Contra as
Heresias 3,5,1)
O mesmo Sto. Irineu ainda disse: "Portanto, a Tradição dos
apóstolos, que foi manifestada no mundo inteiro, pode ser descoberta e toda
igreja por todos os que queiram ver a verdade. Poderíamos enumerar aqui os
bispos que foram estabelecidos nas igrejas pelos apóstolos e seus sucessores
até nós; e eles nunca ensinaram nem conheceram nada que se parecesse com o que
essa gente [os hereges] vai delirando. [...] Mas visto que seria coisa bastante
longa elencar numa obra como esta, as sucessões de todas as igrejas,
limitar-nos-emos à Tradição da maior e mais antiga e conhecida por todos, à
igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos,
Pedro e Paulo, e, indicando a sua tradição recebida dos apóstolos e a fé
anunciada aos homens, que chegou até nós pelas sucessões dos bispos,
refutaremos todos os que de alguma forma, quer por enfatuação ou vanglória, que
por cegueira ou por doutrina errada, se reúnem prescindindo de qualquer
legitimidade. Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com ela, por
causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os
lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que
deriva dos apóstolos." (Contra as Heresias, III,3,1-2). Grifos nossos.
Disse ainda o santo:"A mensagem da Igreja é, portanto, verídica e sólida,
pois é nela que um único caminho de salvação aparece no mundo inteiro"
(Contra as Heresias 5,20,1).
Aqui, Sto. Irineu não só reconhece a autoridade da Tradição dos apóstolos como
testemunha a favor do Primado da Igreja de Roma.
Tertuliano de Cartago (+220) também afirmou: "A crença
uniformemente professada por diversas comunidades não deriva do erro, mas da
legítima Tradição". É dele ainda as palavras: "De nada vale as
discussões das Escrituras. A heresia não aceita alguns de seus livros, e se os
aceita, corrompe-lhes a integridade, adulterando-os com interpolações e mutilações
ao sabor de suas ideias, e se, algumas vezes admitem a Escritura inteira,
pervertem-lhe o sentido com interpretações fantásticas..." (Tertuliano séc
3 In De Praescriptionibus., c. 19 / ML, II,31). Na mesma obra, Tertuliano
assevera que onde estiver a verdadeira Igreja, "aí se achará a verdade das
Escrituras, da sua interpretação e de todas as tradições cristãs" (Idem,
De Praescript., c. 19 ML, 2, 31).
"... Resta, pois, demonstrar que nossa doutrina, cuja regra formulamos
acima, procede da tradição dos apóstolos e, por isso mesmo, as demais procedem
da mentira. Nós estamos em comunhão com as igrejas apostólicas, se nossa
doutrina não difere da sua: eis o sinal da verdade" (Tertuliano, Da
Prescrição dos Hereges, XIII-XX).
S. Clemente de Alexandria (+215), dizia: "Mas ele, salvaguardando a
verdadeira Tradição dos ensinamentos abençoados, que nos vêm direto dos
apóstolos Pedro, Tiago, João e Paulo e foram transmitidos de pai para filho,
chegara até nós, com a ajuda de Deus para que em nós fossem depositadas as
sementes destes apóstolos." (Stromata 1, 11). Grifos nossos.
"Para nós,... que crescemos com as Escrituras, que preservamos a correta
doutrina dos apóstolos e da Igreja, que vivemos de acordo com o Evangelho, é
nos permitido descobrir as provas da Lei e dos Profetas que eles tanto
buscam." (Stromata, 7, 104). Grifos nossos.
Hipólito de Roma (+235) dizia: "Justamente por não observarem as
Sagradas Escrituras e não guardarem a Tradição de algumas santas pessoas é que
os hereges criaram essas [ímpias] doutrinas" (Refutação de Todas as
Heresias 1, Prefácio).
Orígenes de Alexandria (+253) firma como princípio “que só se deve crer
nas verdades ligadas às tradições eclesiástica e apostólica” (De princ. Prae.,
2).
"Esta pedra é inacessível às serpentes, é ela é mais forte que os portões
do inferno em oposição, é por causa disso que as forças dos portões do Hades
não prevalecerão contra ela; mas a Igreja, como uma construção feita pelo
próprio Cristo construindo sua morada, é incapaz de admitir que os portões do
Hades prevaleçam sobre qualquer um que esteja fora desta pedra, mas não possui
forças para tal" (Orígenes, Sobre Mateus,12,11).
Orígenes disse também: "Quando hereges nos mostram as Escrituras
canônicas – nas quais o cristão crê e confia – parecem dizer: ‘Oh, ele está
restrito’. Contudo, não cremos neles, nem abandonamos a Tradição original da
Igreja, nem acreditamos em outras coisas que não nos foram trazidas pela
sucessão existente na Igreja de Deus" (Homilia sobre Mateus 4,6).
S. Cipriano de Cartago (+258) também dizia: "Depois de tudo isto,
eles ainda, tendo um falso bispo que hereges lhes ordenaram, atreveram-se a
selar e carregar cartas de pessoas cismáticas e profanas para a Cátedra de
Pedro (que é) a Igreja principal, de onde surge a unidade do pastoreio. Eles
não refletiram que os romanos são os mesmos cuja fé foi louvada publicamente
pelos apóstolos, e aos quais a descrença jamais terá acesso.” (Epist. 59,14).
Grifos nossos.
“Julga conservar a fé quem não conserva esta unidade recomendada por Paulo? (Ef
4,4-6). Confia estar na Igreja quem abandona a cátedra de Pedro sobre a qual
está fundada a Igreja?" (S. Cipriano).
É de S. Cipriano ainda o seguinte: “A Esposa de Cristo não pode tornar-se
adúltera, ela é incorruptível e casta [Cf Ef 5,24-31]. Conhece só uma casa,
observa, com delicado pudor, a inviolabilidade de um só tálamo. É ela que nos
guarda para Deus e torna partícipes do Reino os filhos que gerou. Aquele que,
afastando-se da Igreja, vai juntar-se a uma adúltera, fica privado dos bens
prometidos à Igreja. Quem abandona a Igreja de Cristo não chegará aos prêmios
de Cristo. Torna-se estranho, torna-se profano, torna-se inimigo. Não pode ter
Deus por Pai quem não tem a Igreja por mãe. Como ninguém se pôde salvar fora da
arca de Noé, assim ninguém se salva fora da Igreja.” (Sobre a unidade da
Igreja, cap. 4). Diria isso S. Cipriano se ele fosse solascripturista?
Lactâncio, convertido no ano 300, disse: “Só a Igreja Católica é que
conserva o verdadeiro culto. Esta é a fonte da verdade; este o domicílio da fé,
o templo de Deus, no qual se alguém não entrar, do qual se alguém sair, está
privado da esperança de vida e salvação eterna” (livro 4º cap. 3º).
Veja o testemunho de Eusébio (+ ou – 317), Bispo de Cesareia e
historiador da Igreja nos tempos primitivos: "[Os apóstolos] Anunciaram o
reino dos céus a todo orbe habitado, sem a menor preocupação de escrever
livros. Assim procediam porque lhes cabia prestar um serviço maior e sobre-humano.
Até Paulo, o mais potente de todos na preparação dos discursos, o mais dotado
relativamente aos conceitos, só transmitiu por escrito breves cartas, apesar de
ter realidades inúmeras e inefáveis a contar [...] Outros seguidores de nosso
Salvador, os primeiros apóstolos, os setenta discípulos e mil outros mais não
eram inexperientes das mesmas realidades. Entretanto, dentre eles todos,
somente Mateus e João deixaram memória dos entretenimentos do Salvador. E a
Tradição refere que estes escreveram forçados pela necessidade. [...] Quanto a
João [o apóstolo], diz-se que sempre utilizava o anúncio oral. Por fim, também
ele pôs-se a escrever pelo seguinte motivo. Quando os três evangelhos
precedentes já se haviam propagado entre todos os fiéis e chegaram até ele,
recebeu-os, atestando sua veracidade. Somente careciam da história das
primeiras ações de Cristo e do anúncio primordial da palavra. E trata-se de
verdadeiro motivo." (História Eclesiástica Livro III, 24,3-7. Eusébio de
Cesareia) Depois, Eusébio nos remete a uma imensa lista de autores e seus
respectivos livros, pelos quais deixaram para a memória cristã a autêntica
pregação apostólica.
"A Clemente [3º sucessor de São Pedro na Cáthedra de Roma] sucedeu
Evaristo; a Evaristo, Alexandre, depois, em sexto lugar desde os apóstolos, foi
estabelecido Xisto; logo, Telésforo, que prestou glorioso testemunho; em
seguida, Higino; após este, Pio, e depois, Aniceto. Tendo sido Sotero o
sucessor de Aniceto, agora detém o múnus episcopal Eleutério, que ocupa o
duodécimo lugar na sucessão apostólica. Em idêntica ordem e idêntico ensinamento
na Igreja, a tradição proveniente dos apóstolos e o anúncio da verdade chegaram
até nós." (História Eclesiástica Livro V, 6,4-5. Eusébio de Cesareia).
Veja a observação de Eusébio quanto à degeneração doutrinária das seitas:
"Extinguiram-se, pois rapidamente as maquinações dos inimigos, confundidas
pela atuação da Verdade. As heresias, uma após outras, apresentavam inovações;
as mais antigas continuamente desvaneciam e desvirtuavam-se, de diferentes
modos, para dar lugar a idéias diversas e variadas. Ao invés, ia aumentando e
crescendo o brilho da única verdadeira Igreja católica, sempre com a mesma
identidade, e irradiando sobre gregos e bárbaros o que há de respeitável, puro,
livre, sábio, casto em sua divina conduta e filosofia. [...] Além do mais, na
época de que tratamos, a verdade podia apresentar numerosos defensores, em luta
contra as heresias ateias, não somente através de refutações orais, mas também
por meio de demonstrações escritas." (História Eclesiástica Livro IV,
7,13.15. Eusébio de Cesareia, + ou - 317 d.C).
S.Gregório de Nissa (+340) testemunhava: "Se um problema é
desproporcional ao nosso raciocínio, o nosso dever é permanecer bem firmes e
irremovíveis na Tradição que recebemos dos Padres" (- Quod non sint tres
dii, MG 45,117).
Veja o que Santo Atanásio de Alexandria (+373) ensinava: "Mas nossa
fé é correta, começando com o ensinamento do apóstolos e Tradição dos padres,
sendo confirmada por ambos os Testamentos." (Epis 60). Grifos nossos.
Esse grande Padre da Igreja ainda dizia: "Mas depois do demônio, e com
ele, vêm todos os que inventam heresias ilegais, que muito embora se refiram à
Escritura, não mantém as mesmas opiniões que os Santos transmitiram, e, não as
conhecendo nem ao seu poder, recebem tradições de homens caindo em erro."
(Festal Letter 2)
"Estamos de acordo com o fato de que este não é o ensinamento da Igreja
Católica, nem os pais o sustentam". (S. Atanásio, A Epicleto, Epístola
59,3).
Como se vê Santo Atanásio não só conservava a Tradição como também cria
no Magistério da Igreja. Dizia ele ainda: "A confissão chegada a Nicéia
era, afirmamos, mais suficiente e bastante a si mesma para a subversão de toda
heresia contrária à religião, e para a segurança e desenvolvimento da doutrina
de Cristo." (Ad Afros 1) "Mas a Palavra de Deus que veio através do
Sínodo Ecumênico de Nicéia, permanece para sempre". (Ad Afros 2)
"Eles não cometem um crime ao pensar que podem contradizer Concílio tão
grande e universal?" (De decretis 4) E como sabemos, o referido Concílio
professava: "Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica".
Veja isto ainda: "Mas o que também é importante, deixe-nos notar que a
própria Tradição, ensinamento e fé da Igreja Católica desde o começo, que foi
dada pelo Senhor, foi pregada pelos apóstolos e preservada pelos Pais. Nisso
foi fundada a Igreja; se alguém se afasta disso, ele não é e nem deveria mais
ser chamado Cristão." (Santo Atanásio, Cartas a Serapião de Thmuis,
1,28-).
Veja agora S. Basílio de Cesareia (+380): "Meta comum de todos os
adversários, inimigos da sã doutrina, é abalar o fundamento da fé em Cristo,
arrasando, fazendo desaparecer a Tradição apostólica. Por isso, eles,
aparentando ser detentores de bons sentimentos, recorrem a provas extraídas das
Escrituras, e lançam para bem longe, como se fossem objetos vis, os testemunhos
orais dos Padres." (Tratado sobre o Espírito Santo, Cap 25).
Disse ainda o santo: "Um dia inteiro não nos bastaria se quiséssemos expor
os mistérios da Igreja que não constam das Escrituras. Deixando de lado tudo
mais, pergunto de quais passagens retiramos a profissão de fé no Pai e no Filho
e no Espírito Santo. Se a extraímos da tradição batismal, de acordo com a
piedade (pois devemos crer segundo a maneira como fomos batizados), para
entregarmos uma profissão batismal, essencial ao batismo, consequentemente nos
seja permitido também glorificar conforme nossa fé. Mas, se esta forma de dar
glória nos é recusada, por não constar das Escrituras, sejam-nos mostradas
provas escritas da profissão de fé e de todo o restante, que enumeramos. Desde
que há tantas coisas que não foram escritas, e coisas tão importantes para o
mistério da piedade, ser-nos-á recusada uma só palavra, proveniente dos Pais,
que nós vemos persistir por um uso espontâneo nas Igrejas isentas de desvios, uma
palavra muito razoável, e que muito contribui para a força do mistério?"
(Tratado sobre o Espírito Santo. Cap 67.).
Diz ele ainda: “Entre as verdades conservadas e anunciadas na Igreja, umas nós
as recebemos por escrito e outras nos foram transmitidas nos mistérios, pela
Tradição apostólica. Ambas as formas são igualmente válidas relativamente à
piedade. Ninguém que tiver, por pouco que seja, experiência das instituições
eclesiásticas, há de contradizer. De fato, se tentássemos rejeitar os costumes
não escritos, como desprovidos de maior valor, prejudicaríamos
imperceptivelmente o evangelho, em questões essenciais. Antes, transformaríamos
o anúncio em palavras ocas." (Tratado sobre o Espírito Santo. Cap 66.).
Nos dois escritos Contra Eunômio (1,1-3) e Sobre o Espírito Santo (29,
71), diz outra vez o santo: “Considero apostólica a firme adesão às tradições
que não estão contidas na Escritura” (Cfr. 27,66; Migne, 32,188).
Sto Ambrósio de Milão (+397) afirmava: "Mas, se eles não acreditam na
Doutrina dos Padres, que acreditem nos oráculos de Cristo, nas admoestações dos
anjos que dizem ‘para Deus nada é impossível’. Que acreditem no Credo
apostólico que a Igreja de Roma sempre manteve intacto."
"Ao despontar do dia que fora escolhido para a disputa com Simão [Mago],
Pedro [Apóstolo], levantando-se aos primeiros cantos do galo, despertou também
a nós; todos juntos, éramos treze a dormir no mesmo aposento. [...] À luz da
candeia [...] sentamo-nos todos. Pedro, vendo-nos alertas e bem atentos,
saudou-nos e começou seu discurso: 'É surpreendente, irmãos, a elasticidade de
nossa natureza, a qual me parece ser adaptável e maleável a tudo. Digo-o
apelando para o eu mesmo tenho experimentado. Logo depois da meia-noite,
costumo acordar espontaneamente e não consigo voltar a dormir. Isto me acontece
porque me habituei a evocar em minha memória as palavras que ouvi de meu Senhor
Jesus Cristo. Desejo de as revolver no espírito, incito o meu ânimo e a minha
mente a se despertarem, a fim de que, em estado de vigília, recorde cada
palavra de Jesus em particular e as guarde todas ordenadamente na memória. Já
que desejo com profundo deleite meditar no meu coração as palavras do Senhor,
adquiri o hábito de ficar em vigília, mesmo que nada, fora deste intento, me
preocupe o espírito" (Pseudo-Clemente, século III, Recognitiones II,1).
São João Crisóstomo (354-407): também expressava: "Dessa forma,
irmãos, fiquem firmes e guardem as tradições que lhes foram ensinadas, seja por
palavra ou por carta. Isso deixa claro que eles não transmitiram tudo por
carta, mas que havia muita coisa também que não foi escrita. Como a que foi
escrita, a não escrita também é digna de crédito. Então vamos considerar a
tradição da Igreja como sendo digna de crédito. Isto é uma tradição? Não
procure outra coisa." (Homilias sobre a 2ª Epístola aos Tessalonicenses
4,2).
Dizia ainda o santo: "Não te afaste da Igreja: nada é mais forte que ela.
Ela é a tua esperança, o teu refúgio. Ela é mais alta que o céu e mais vasta
que a terra. Ela nunca envelhece".
S. Epifânio de Salamina (+403) apresenta a Tradição como um complemento
da Bíblia: “Também a Tradição é necessária, pois que nem tudo se pode tirar da
Escritura; os apóstolos deixaram-nos uma parte de seu ensinamento nas
Escrituras, os demais acha-se nas tradições” (Haer. 41,6; Migne, 41, 1047).
S. Epifânio falou também: "A Igreja deve guardar este costume, recebido
como tradição dos Pais. E quem haverá de suprimir o mandato da mãe ou a lei do
pai? Conforme o que diz Salomão, 'tu, filho meu, escuta as correções de teu pai
e não rejeites as advertências da tua mãe'. Com isto, se ensina que o Pai, o
Deus unigênito e o Espírito Santo, tanto por escrito como sem escritura, nos
deram doutrinas, e que nossa Mãe, a Igreja, nos legou preceitos, os quais sãos
indissolúveis e definitivos" (Haer. 75,8).
S. Jerônimo (+420) também dissera: "Você quer uma prova da
Escritura? Poderá encontrar nos Atos dos Apóstolos. E se não restar provado com
a autoridade da Escritura, o consenso de todo o mundo (=isto é, da Igreja
Católica) sobre esse assunto serve como força de comando" (Diálogo com os
Luciferanos 8).
Veja o que dizia Sto. Agostinho de Hipona (+433): “Eu não creria no
Evangelho, se a isso não me levasse a autoridade da Igreja católica.” (Contra a
Carta de Mani 5,6) Obviamente isso é o mesmo que dizer: "Creio na Bíblia
porque a Igreja me manda crer".
"Mas com relação àquelas observâncias que seguimos cuidadosamente e que o
mundo todo mantém, e que não vêm da Escritura, mas da Tradição, é-nos concedido
compreender que foi ordenado e recomendado que a guardássemos seja pelos
próprios apóstolos, seja pelos Concílios plenários, a autoridade que é tão
vital para a Igreja." (Carta de Agostinho para Januário 54,1,1, 400 D.C).
"Acredito que esta prática venha da tradição apostólica, assim como tantas
outras práticas não encontradas nos escritos deles nem nos concílios de seus
sucessores, mas que, porque são observadas por toda a Igreja em todos os
lugares, acredita-se que tenham sido confiadas e concedidas pelos próprios
apóstolos." (Sto. Agostinho, Batismo 1,12,20, 400 D.C.)
"Eles guardaram o que encontraram na Igreja; o que lhes foi ensinado,
ensinaram; o que receberam dos pais, transmitiram aos filhos." (Santo
Agostinho, Contra Juliano, 2,10,33, 421 D.C).
"Assim pelo favor de Cristo somos Cristãos católicos:" (Santo
Agostinho, Carta a Vitalis, 217,5,16, 427 D.C.).
"Vocês nasceram pela mesma palavra, pelo mesmo Sacramento, mas não obterão
a mesma herança de vida eterna, a menos que retornem para a Igreja
Católica." (S. Agostinho, Sermões, 3, 391 D.C).
"Esta Igreja é santa, a única Igreja, a verdadeira Igreja, a Igreja
Católica, lutando como o faz contra todas as heresias. Ela pode lutar, mas não
pode ser vencida. Todas as heresias são expelidas dela, como galhos inúteis são
podados de uma vinha. Ela permanece fixa à sua raiz, em sua vinha, em seu amor.
As portas do inferno não a conquistarão." (S. Agostinho, Sermão aos
Catecúmenos sobre o Credo, 6,14, 395 D.C).
“Um homem Cristão, é Católico enquanto vive no Corpo, separado é um herético, o
Espírito não segue a um membro amputado." (Santo Agostinho)
Dizia ainda o santo: “Deve ser seguida por nós aquela religião cristã, a
comunhão daquela Igreja que é CATÓLICA, e Católica é chamada não só pelos seus,
mas também por todos os inimigos.” (Verdadeira Religião c. 7; n 12).
"É óbvio que se a fé permite e a Igreja Católica aprova, então deve ser
crido como verdade" (Santo Agostinho, Sermão 117,6).
"Roma locuta, causa finita est", ou seja, “Roma falou, acabou-se a
questão”. (S. Agostinho, Sermão 131,10).
S. Vicente de Lerins, (+450) "Perguntando eu com toda a atenção e
diligência a numerosos varões, eminentes em santidade e doutrina, que norma
poderia achar segura, enquanto possível genérica e regular, para distinguir a
verdade da fé católica da falsidade da heresia, eis a resposta constante de
todos eles: quem quiser descobrir as fraudes dos hereges nascentes, evitar seus
laços e permanecer sadio e íntegro na sadia fé, há de resguardá-la, sob o
auxílio divino, duplamente: com a autoridade da Lei Divina e com a Tradição da
Igreja Católica. Sem embargo, alguém poderia objetar: Posto que o Cânon das
Escrituras é em si mais que suficientemente perfeito para tudo, que necessidade
há de se acrescentar a autoridade da interpretação da Igreja? Precisamente
porque a Escritura, por causa de sua mesma sublimidade, não é entendida por
todos de modo idêntico e universal. De fato, as mesmas palavras são
interpretadas de maneira diferente por uns e por outros. Se pode dizer que
tantas são as interpretações quantos são os leitores. Vemos, por exemplo, que
Novaciano explica a Escritura de um modo , Sabélio de outro, Donato, Eunomio,
Macedônio, de outro; e de maneira diversa a interpretam Fotino, Apolinar,
Prisciliano, Joviano, Pelágio, Celestino, e em nossos dias, Nestório. É pois,
sumamente necessário, ante as múltiplas e arrevesadas tortuosidades do erro,
que a interpretação dos Profetas e dos Apóstolos se faça seguindo a pauta do
sentir católico. Na Igreja Católica deve-se ter maior cuidado para manter aquilo
em que se crê em todas as partes, sempre e por todos. Isto é verdadeira e
propriamente católico, segundo a ideia de universalidade que se encerra na
mesma etimologia da palavra. Mas isto se conseguirá se nós seguimos a
universalidade, a antiguidade e o consenso geral. Seguiremos a universalidade
se confessamos como verdadeira e única fé a que a Igreja inteira professa em
todo o mundo; a antiguidade, se não nos separamos de nenhuma forma dos
sentimentos que notoriamente proclamaram nossos santos predecessores e pais; o
consenso geral, por último, se, nesta mesma antiguidade, abraçamos as
definições e as doutrinas de todos, ou de quase todos, os Bispos e
Mestres." (Commonitorium).
S. João Damasceno (+749) assim se expressou: "Se alguém se
apresentar com um Evangelho diferente daquele que a Igreja Católica recebeu dos
Santos Apóstolos, dos Padres e dos Concílios, e que ela conservou até aos
nossos dias, não o escuteis" (Discurso sobre as Imagens 3,3).
Tudo isso já basta para demonstrarmos que os primeiros cristãos sempre acataram
realmente a autoridade da Igreja e da Tradição. Do contrário, as afirmações
atrás citadas não seriam feitas.
Outra prova incontestável de que a Igreja primitiva não acreditava na Sola
Scriptura é que os credos primitivos sempre dizem: "Creio na Santa Igreja
Católica" e não simplesmente "Creio na Santa Escritura". Além
disso, o fato de os primeiros bispos da Igreja redigirem Cartas Apostólicas
constitui outra incontestável prova de que eles não acreditavam na Sola Scriptura,
pois senão ficariam apegados tão somente à Escritura. Além disso, se a Sola
Scritptura é verdadeiramente uma doutrina apostólica, porque não é aceita pelos
Cristãos Coptas do Egito (que se separaram da Igreja Católica há quase 1500
anos) e pelos cristãos Ortodoxos (que se separaram da Igreja Católica há quase
1000 anos)? Se, conforme os solascripturistas, a Tradição só foi validada pela
Igreja no século XVI, por que, então, essas Igrejas que se separaram da Igreja
Católica muito antes desse século, também a conservam como regra de fé? É
impossível que eles tenham se dobrado a uma decisão da Igreja Romana. Não acha?
Como se vê, a Sola Scriptura está longe de ter sido uma doutrina de fé dos
apóstolos. Ela estava totalmente ausente nos primórdios do Cristianismo. É uma
criação recente e, portanto, alheia a fé dos pimeiros cristãos.
Além dos escritos patrísticos a respeito veja também testemunhos de alguns
próprios evangélicos sobre o assunto:
Heiko Oberman, historiador protestante, afirma: “Em relação à Igreja pré-augustiniana,
há recentemente uma tendência convergente entre os estudiosos da Bíblia de que
a Escritura e a Tradição na Igreja Primitiva não eram excludentes: kerygma,
Escritura e Tradição coincidiam perfeitamente.
A Tradição não deve ser entendida como uma adição ao kerygma, mas como a sua
pregação de forma viva: em outras palavras, tudo que é encontrado na Sagrada
Escritura está presente na Tradição.
Ela está presente no corpo visível de Cristo, inspirado e vivificado pela obra
do Espírito Santo... A Escritura e a Tradição derivam de uma única fonte: a
Palavra de Deus. Somente na Igreja este kerygma pode ser transmitido sem
falhas...” (The Harvest of Medieval Theology, Grand Rapi-ds, MI: Eerdmans, rev.
ed., 1967, 366-367)
Jaroslav Pelikan, historiador luterano, afirma: “Claramente há um anacronismo
em supor que as discussões dos séculos 2 e 3 derivam das controvérsias do
século 16 em relação à Escritura e Tradição, pois ‘na Igreja ante-nicena não
havia a noção de Sola Scriptura, como também não havia a Sola Traditio.’[1]
A Tradição apostólica era pública... tão palpável que mesmo se os apóstolos não
estivessem com a Escritura em mãos para demonstrar uma norma de suas doutrinas,
a igreja ainda assim seguiria ‘a estrutura da tradição que eles traziam a quem
confiaram às igrejas’[2]. Isto foi, de fato, o que a igreja fez nos territórios
bárbaros onde o material escrito não era disponível aos ouvintes, conservando o
conteúdo da fé transmitida pelos apóstolos e sumarizada no credo...
O termo “regra de fé” ou “regra de verdade”... parece algumas vezes ter
pertencido à Tradição, outras à Escritura, outras à mensagem do Evangelho...
Na Reforma... os advogados da autoridade final das Escrituras ignoraram a
função da Tradição em conservar o que se conhecia como correta exegese das
Escrituras contras as alternativas heréticas.” (The Christian Tradition: A History of the Development of
Doctrine: Vol. 1 of 5: The Emergence of the Catholic Tradition (100-600),
Chicago: Univ. of Chicago Press, 1971, 115-117, 119; citações: [1]. In Cushman,
Robert E. & Egil Grislis, eds., The Heritage of Christian Thought: Essays
in Honor of Robert Lowry Calhoun, New York: 1965, citado em Albert Outler,
"The Sense of Tradition in the Ante-Nicene Church," 29. [2]. St. Irineu, Contra as Heresias, 3:4:1).
Edwin Tait, anglicano, escreveu: “Com certeza os Padres ensinaram que podiam
provar suas conclusões a partir da Bíblia. Também ensinaram que a comunhão dos
bispos sucessores dos apóstolos, reunidos em Concílio (com Roma tendo algum
papel, o qual não pretendo abordar aqui), seriam os responsáveis pela correta
interpretação da Bíblia. Todo este debate sobre a Sola Scriptura somente se
tornou realidade quando um número considerável de cristãos começaram a afirmar
que os bispos reunidos em Concílio haviam errado na interpretação bíblica
durante vários séculos. Ambos os lados podem recorrer aos Pais, porque os Pais
nunca ensinaram sobre a suficiência bíblica e a autoridade da Igreja/Tradição
em discordância.”
É lógico que algumas expressões dos Pais da Igreja que parecem favorecer a Sola
Scriptura precisam ser lidos à luz de tudo o que até agora foi exposto sobre os
dizeres deles. Não é por falarem da Escritura como autoridade de fé que vamos
concluir que eles defendiam a exclusividade dessa mesma Escritura. Uma coisa
não implica outra. É impossível alguém ser solascripturista, se reconhece a
autoridade da Tradição e do Magistério da Igreja. E isso ficou claríssimo nas
próprias afirmações deles. Os Pais da Igreja acatavam apenas a suficiência
material das Escrituras, não a formal, que como vimos, exclui a Tradição e a
Igreja. Logo, fica evidente que o entendimento dos Santos padres difere
totalmente do conceito reformista sobre essa suficiência das Escrituras. Sola
Scriptura implica em negar a autoridade da Igreja e da Tradição e não foi isso,
como vimos, que os padres ensinaram.
Professor Evaldo Gomes
Fonte:
Programa Falando de Fé